28 de setembro de 2022
Com Sarah Emrish, jornalista voluntária na cobertura do Intercom 2022 sob supervisão do professor Rodrigo Martins Aragão (UFPB)
Os desafios enfrentados por periódicos científicos no Brasil e estratégias para enfrentá-los foram o tema principal do III Fórum de Revistas Científicas, evento híbrido realizado na tarde de 6 de setembro no Auditório Sead, no campus I da UFPB, em João Pessoa, e transmitido ao vivo no canal da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) no YouTube, como parte da programação do 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2022).
Nair Prata (Ufop), diretora Científica da Intercom e mediadora do debate, ressaltou que o Fórum de Revistas Científicas foi criado pela entidade no primeiro ano da pandemia de covid-19,durante o 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2020), realizado em modalidade 100% virtual. “É a primeira vez que estamos realizando o fórum em um evento presencial. Gostaríamos de fazer um evento mais robusto, mas, neste retorno, tivemos que fazer algumas escolhas e ainda não é exatamente o modelo de fórum que gostaríamos de fazer. Achamos fundamental realizar esse encontro, até porque a realização dele é uma forma de resistência a tudo o que está posto. Queremos prosseguir fazendo ciência”, afirmou.
Na palestra de abertura, Maria Ataide Malcher (UFPA), editora da Revista Brasileira de Ciências da Comunicação (Revista Intercom – RBCC), propôs reflexões sobre práticas de ciência aberta a partir das experiências da própria Revista Intercom – RBCC, publicação é uma entre apenas três do campo da Comunicação que estão na base SciELO. “A RBCC está nessa base há 11 anos. Como uma das revistas da área da Comunicação mais antigas na base, tem sido bastante estimulada a atender critérios e a participar de discussões globais sobre a produção e o acesso ao conhecimento científico”, explicou a professora Maria Ataide, acrescentando que a publicação produz um checklist para roteirizar seu planejamento em termos de adoção de pré-prints, publicação contínua, direitos autorais, contribuições dos autores, métricas alternativas, gerenciamento e disponibilização de dados de pesquisa e processo de avaliação por pares, entre outras questões.
Em seguida, a palestrante mencionou a Redalyc – base criada em 2003, com sede no México – como exemplo do movimento de ciência aberta na América Latina. “SciELO e Redalyc priorizam a acessibilidade da pesquisa regional, enquanto outras plataformas globais buscam visibilidade e ‘impacto’ – entre aspas porque a gente tem que discutir muito bem essa questão do índice de impacto", afirmou. A fim de ilustrar a importância dessa priorização do acesso, citou uma experiência recente que teve como pesquisadora: de 402 estudos levantados em uma revisão sistemática de literatura sobre comunicação pública da ciência, só conseguiu acesso a 246 (sendo que nem todos estavam em sistema aberto, tendo sido necessário solicitar o acesso aos autores). “Nossos erros e acertos devem circular mais rapidamente”, enfatizou, após apontar a aceleração da comunicação científica durante a pandemia.
Por fim, a professora Maria Ataide fez um chamado à discussão política, teórica e metodológica do que significa ciência aberta para as Ciências da Comunicação no Brasil. "Acho que essa discussão deveria ser puxada pela Intercom, que durante tanto tempo tem feito um trabalho muito diferenciado de ciência aberta. Nosso repositório de anais é um dos mais acessados no Brasil, durante décadas tem sido o lugar que tem servido de acervo de pesquisas, de matéria-prima muito importante", concluiu.
Após a palestra de abertura, a discussão foi aberta aos(às) demais participantes do fórum: Denise Tavares (UFF), editora da Revista Mídia e Cotidiano; Laura Cánepa (UAM), editora da Revista Insólita (UAM-Intercom); Lucas Murari (UFRJ), editor da Revista Eco-Pós; e Maria Clara Aquino (Unisinos), editora da Revista E-Compós.
Denise Tavares partiu da experiência na Revista Mídia e Cotidiano para elencar os principais desafios de revistas de médio porte: profissionalização da equipe; indexação; mudanças no processo de avaliação ("O impacto definindo a validade ou não daquilo que a gente faz”); citações (na Mídia e Cotidiano, por exemplo, os textos mais antigos são mais citados do que os recentes, fugindo à temporalidade de cinco anos projetada pelo Google Acadêmico); e o equilíbrio entre dossiês temáticos e publicação contínua. Como possíveis soluções, citou algumas estratégias da revista do Programa de Pós-Graduação Mídia e Cotidiano da Universidade Federal Fluminense (UFF): a relação amistosa e afetuosa com pareceristas; participação no fórum de periódicos da instituição, para trocas inclusive com editores das chamadas “áreas duras”; qualificação de editores no programa de pós-graduação; e encontros constantes com outros editores. Também ressaltou a necessidade de editores de revistas encabeçarem uma campanha de valorização de pareceristas e, por fim, apresentou duas propostas: a formalização de um espaço permanente para editores de periódicos em entidades como Intercom, Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós) e Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor); e a realização de um seminário no primeiro semestre de 2023. "Estou com muita esperança de que, nessa primavera, possamos voltar a sonhar com um país melhor, um país nos dê rumo e nos faça ter fôlego. Porque temos estado muito tristes com a situação que estamos vivendo. Se, de fato, essa primavera se consolidar, coroarmos essa primavera no primeiro semestre – principalmente porque em julho o Google faz aquela varredura de como estão as citações –, eu toparia me juntar para promover um evento como esse", concluiu.
Laura Cánepa contou sua experiência à frente da Insólita – Revista Brasileira de Estudos Interdisciplinares do Insólito, da Fantasia e do Imaginário, lançada em 2021 pela Intercom em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi a partir do evento InsólitoCom, realizado em 2018 e 2019 em São Paulo. Ressaltando a liberdade de experimentação proporcionada pelo fato de a revista ser recente e ainda não indexada, a editora afirmou que a publicação tem recebido um bom volume de textos e sido bem avaliada pelos(as) leitores(as). "O fato de a revista ter sido criada junto com o grupo de discentes que organizou o InsólitoCom e de ela ter esse aspecto temático específico, que permite algumas sacadas de edição, trouxe, para as turmas que nos ajudam a fazer a edição e programação, um sentido de pertencimento. E fizemos uma parceria com o curso de Produção Editorial da Anhembi para que alunas que estão na fase de formatura também atuem como revisoras, então elas fazem estágio – o que nos permitiu ter um trabalho pedagógico", contou.
Após lembrar e homenagear Maurício Lissovsky, que falecera em 25 de agosto e que era colaborador frequente da Revista Eco-Pós, Lucas Murari compartilhou um caso atípico ocorrido em 2021: um aumento significativo nos acessos à revista após Olavo de Carvalho postar um comentário sobre o dossiê “Guerras Culturais”, publicado no volume 24, número 2 (2021). "O curioso de observar a repercussão dessa polêmica foi que muita gente acessou a Revista Eco-Pós pela primeira vez – um periódico acadêmico brasileiro pela primeira vez –, por conta dessa postagem de Olavo Carvalho", comentou. Em seguida, o editor explicou que a publicação está focando, em 2022, a inscrição em indexadores internacionais, a transparência editorial e o diálogo com pesquisadores(as) da América Latina e do Caribe. Por fim, ressaltou a importância do Fórum de Revistas Científicas: "Gostaria de agradecer e parabenizar esta iniciativa da Intercom, por criar este ambiente de conversa, de troca, de aprendizagem. Por mais que tenhamos, em nossa equipe, dezenas de colaboradoras e colaboradores, é muito bom saber o que outras revistas estão fazendo e pensando para, assim, aprimorar constantemente nosso trabalho".
Por fim, Maria Clara Aquino fez uma breve explanação sobre um dos principais desafios da Revista E-Compós: o fato de ser uma publicação da Compós, entidade que representa a diversidade dos programas de pós-graduação em Comunicação de todo o país, torna difícil atender aos critérios dos indexadores. “É um processo realmente muito difícil, que demanda um esforço sobre-humano de todos nós, que estamos envolvidos numa série de outras atividades, e que perpassa também por uma questão de profissionalização", afirmou. A editora elencou, então, algumas iniciativas da revista quanto à ciência aberta: publicação contínua e ahead of print; ações de diálogo com pareceristas, com a comunidade acadêmico-científica e com a comunidade em geral (com um planejamento de divulgação por meio das redes sociais e de podcasts); e análise dos dados de acesso para compreensão das demandas de conteúdo por parte dos leitores.
No encerramento do fórum, os(as) participantes enfatizaram as dificuldades das revistas científicas no Brasil, apontando a necessidade de reconfiguração das normas editoriais, ambientação, diálogo entre comunidades e ciência aberta, mesmo que ainda sejam necessários aprofundamentos e estudos sobre suas complexidades executivas, políticas, sociais e econômicas. Nair Prata conclui que a revista científica faz a ponte entre quem produz a ciência e quem a consome, sendo um canal fundamental para levar a ciência ao público.
Para assistir à íntegra do III Fórum de Revistas Científicas, clique aqui.
O 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2022) reuniu cerca de 1,7 mil pessoas entre os dias 5 e 9 de setembro em João Pessoa, realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e organizado pelo Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA) e pelo Departamento de Comunicação (Decom) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com coordenação de Norma Meireles, professora da UFPB e diretora Regional Nordeste da Intercom. Saiba mais.
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