Entrevista com a professora Sonia Virgínia Moreira
Realizada em 14 de julho de 2015
Pesquisa e roteiro: Alice Melo
Entrevistadores: Ana Paula Goulart e Cláudio Ornellas
Transcrição: Helio Cantimiro
Edição: Cláudio Ornellas
Diga, por favor, seu nome, a data e o local de seu nascimento.
Sonia Virgínia Moreira. Nasci em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em 26 de agosto de 1954.
Como se chamavam seus pais e o que eles faziam?
Meu pai, imigrante português, Antônio Moreira, veio para cá junto com os irmãos. Ele era contador, mas eu cresci com ele tendo um depósito de plantas em Campo Grande. Foi o que ele foi fazer. Ele foi para Mato Grosso do Sul. Antes, ele tinha um caminhão. E minha mãe, Virgínia Moreira, é descendente de iugoslavos. Meu avô, pai dela, era imigrante também. Ela era dona de casa.
Qual foi a sua formação? Onde você estudou?
A minha mãe nunca se convenceu de que eu fiz jornalismo porque eu queria fazer jornalismo. Ela achava que era porque o curso não existia em Campo Grande e eu saí de lá por causa disso. E vim para o Rio, diferente dos outros amigos, porque na turma da época o destino era São Paulo. Mas tinha uma parte da turma que veio para o Rio. E eu acabei vindo para o Rio nos anos 1970. É engraçado, porque eu pensava em ser jornalista. Meu pai tinha uma chave de caixa postal que ficava pendurada no chaveiro dele, que ele usava preso à cintura, e o programa que eu mais gostava era abrir a caixa postal para ele, porque ele recebia O Cruzeiro, ele recebia os jornais, e eu adorava ver aquele material. No depósito de plantas, tinha um corredor. O depósito de plantas ficava na esquina e, do lado, havia as oficinas do jornal O Matogrossense. E eu amava, quando criança, acho que esse é um definidor também da profissão. Eu amava, primeiro, acompanhar o trabalho deles montando a página e, depois, ir pegando nas caixinhas as letras. E, às vezes, misturava, era um problema sério, às vezes. Mas, então, o jornalismo, de alguma maneira, já estava presente ali desde cedo. Isso, criança mesmo, com seis anos de idade, sete. E, desde muito cedo, comecei a ler, meu pai me ensinou a ler. Com 12, 13 anos, eu já lia livros, livros às vezes de autores portugueses. Comecei a ver Eça de Queiroz, eu devia ter uns 11, 12 anos, porque ele tinha na biblioteca e passava para mim. E o jornalismo, de uma certa maneira, sempre foi uma coisa presente, porque eu adorava ler O Cruzeiro, adorava ler os jornais também que ele assinava. E aí teve aquela moda em Campo Grande, cidade do interior: todo mundo da minha geração fez teste vocacional. E o meu teste vocacional deu jornalista, direção de teatro ou atriz. E documentarista, tinha essa especificidade de ser documentarista. E, quando eu vim para o Rio, na verdade, eu vim já para fazer jornalismo, e acabei fazendo. Eu não conhecia absolutamente nada do Rio. Fiz o vestibular pela Cesgranrio. Tinha primeira e segunda opção: eu botei PUC primeiro semestre, PUC segundo semestre. Não passei em nenhum, e acabei fazendo na Gama Filho. Na Gama filho, eu conheci pessoas que foram muito legais, depois, para a vida, tanto em relação aos colegas quanto em relação aos professores.
Que publicações chegavam em Campo Grande?
Na caixa postal? Ele assinava o Correio da Manhã, O Cruzeiro, e tinha mais um outro jornal, que era de São Paulo. Vou fazer até um parêntese. Como ele tinha um caminhão, ele fazia transporte de café até Cuiabá. Vocês imaginem o que era fazer isso nos anos 40, estradas sem asfalto... O caminhão dele quebrou no meio desse trajeto, numa cidade que se chama Coxim e é um dos inícios lá do Pantanal. Aí ele teve que ficar lá esperando até que conheceu minha mãe. Tinha uma diferença de idade muito grande, porque ele já tinha quase 40 anos e minha mãe tinha 19. E eles acabaram se casando depois de tudo. Meu avô era muito bravo. Voltando para a questão do jornalismo, Campo Grande tinha vários jornais também, mas o que chegava eram os jornais, principalmente, do Rio, e menos de São Paulo. Por exemplo, eu não me lembro de ter visto ou lido com ele o Estadão ou a Folha. Talvez o Estadão. Mas, não, eram o Correio da Manhã e O Cruzeiro. Eram duas publicações daqui do Rio, feitas na época.
Como foram suas primeiras experiências profissionais?
Rosental Calmon Alves foi meu professor, na Gama Filho. Ele me levou para o meu primeiro estágio. Ele faz questão de lembrar e dizer para as pessoas que eu fui aluna dele e que ele que me botou na profissão. Eu ia voltar de férias para Campo Grande, e ele falou: “Menina, está na hora de trabalhar, e a Rádio JB está com estágio aberto. Vai lá”. E veja só: não só eu comecei a fazer estágio na rádio – e isso foi um definidor, porque depois eu fui repórter da rádio também – como isso me trouxe o rádio para bem perto. Depois, o rádio virou objeto de estudo. Então eu acho que, sem querer, as coisas estavam se definindo ali, naquele momento. Um outro professor que foi superbacana – ele era professor de redação, e importante também – foi José Luiz Sombra, que hoje mora em Itaipava. Foi fundamental. Tem uma professora de sociologia que eu sempre esqueço o nome dela, mas ela foi maravilhosa também na vida. O problema da memória. E um professor de planejamento gráfico também. Foram quatro, na verdade, sendo que esses dois estiveram mais atuantes, o Rosental e o Sombra, em vários momentos da minha vida profissional. Eu acho que, se eu não estivesse lá, eu provavelmente não os teria conhecido – o Rosental, principalmente.