No último dia 20 de junho, a comunidade acadêmica e de comunicação brasileira chorou a repentina perda de um de seus mais importantes nomes. O Prof. José Marques de Melo, fundador e presidente de honra da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), faleceu em São Paulo, aos 75 anos, deixando como grande legado a consolidação das Ciências da Comunicação como campo de pesquisa científica.
“Eu acredito muito nos jovens, os jovens têm muita capacidade de realização e estão precisando de espaço.” O depoimento do Prof. José Marques de Melo ao projeto Memória Intercom talvez resuma sua trajetória acadêmica e de vida.
Filho de mãe descendente de holandeses e pai comerciante, o jovem José Marques de Melo cresceu na cidade de Santana do Ipanema, no sertão de Alagoas. Segundo ele, sua formação foi “eclética”: após o primário e o ginásio em escolas públicas, fez o Científico em Maceió e Recife, com bolsa de estudos obtida graças às notas altas. Em 1960, ano do vestibular, a família já havia decidido que ele seria engenheiro. Porém, tendo trabalhado em jornais na adolescência, seu interesse era mesmo pelo jornalismo. O jovem estudante entrou em acordo com o pai e passou em direito da Universidade Federal do Pernambuco, sem abrir mão do curso de jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco, recém-criado pelo Prof. Luiz Beltrão. Duas faculdades e um emprego na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) lhe renderam uma formação ampla. “Foi a partir da minha entrada na Universidade Católica de Pernambuco, com Luiz Beltrão, que eu, na verdade, tive a minha melhor formação”, afirmou ao projeto Memória Intercom. “E a faculdade de direito também foi importante porque eu, na verdade, convivi com a geração que, depois, teve muita participação no país inteiro.” Além disso, ainda encontrava tempo para militar no Partido Comunista e participar do Movimento de Cultura Popular, criado pelo então governador alagoano Miguel Arraes.
Assim que os militares deram o golpe, em 1964, Marques de Melo foi preso. Em 1965, fez o mestrado e, logo depois, foi convidado pelo Prof. Luiz Beltrão para substituí-lo. Porém, em 1966 a situação em Recife ficou insustentável e ele se mudou para São Paulo, onde sua carreira acadêmica se desenvolveu. “Eu não planejei ser professor. Eu queria ser jornalista (...) Em suma, eu tinha o complexo do repórter. Mas acontece que o golpe de 64 mudou completamente as nossas perspectivas de vida.”
Ao chegar a São Paulo, conseguiu uma cadeira na Cásper Líbero – “Eu tenho um histórico de entrada e saída da Cásper Líbero, fui demitido lá três ou quatro vezes” – e trabalhava no Instituto de Estudos Sociais e Econômicos (Inese) redigindo relatórios de pesquisa. Em 1967, assumiu a cátedra de teoria e prática do jornalismo na recém-criada Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Sobre o início na USP, o Prof. Marques de Melo contou: “Fui o mais jovem regente de cátedra de São Paulo, e todo mundo ficou de olho em cima de mim. Primeiro, porque eu era nordestino. Havia um preconceito aqui. Eu tive que fazer aula de dicção para falar paulistês”. Foi na USP que ele obteve o doutorado em 1973. Novamente para escapar de perseguições políticas, partiu para um pós-doutorado nos Estados Unidos, onde ficou um ano – aliás, foi o primeiro bolsista de pós-doutorado da área de comunicação na Fapesp. Ao retornar, foi demitido da USP e só readmitido com a anistia de 1979. Nesse intervalo, em uma busca desesperada por trabalho, foi contratado pela Metodista – onde, em 1994, instituiu a Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional.
A atuação do Prof. José Marques de Melo foi fundamental para o desenvolvimento e a consolidação da comunicação acadêmica no Brasil. Prova disso é a própria Intercom, fundada por ele praticamente na clandestinidade em 1977. “Talvez a primeira missão que a Intercom teve no Brasil foi legitimar a área de comunicação como uma área acadêmica”, afirmou o Prof. Marques de Melo, que atualmente era o presidente de honra e presidente do Conselho Curador da entidade.
Referência: Projeto Memória Intercom (http://portalintercom.org.br/uploads/files/depoimento_JMM_2.pdf)
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