Pierre Fayard lança novo livro no Brasil e fala sobre relações franco-brasileiras

Pierre Fayard, professor emérito da Universidade de Poitiers, na França, e ex-diretor geral do Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica (CenDoTeC), esteve no Brasil em agosto de 2018 para lançar a versão em português de seu novo livro, “Doze estratégias para seduzir. A sedução no cinema” (Escolar Editora).

O Jornal Intercom aproveitou a oportunidade para conversar com o professor Fayard sobre o novo livro, sua ligação com o Brasil, as relações Brasil-França no campo da pesquisa em Comunicação e o papel da Intercom. Ele também lembrou o professor José Marques de Melo: “Sem ele, eu não teria tido tanta participação acadêmica no Brasil por mais de 20 anos. Tenho sincera admiração e profunda gratidão por essa figura central das Ciências da Comunicação não só no Brasil, mas em toda a América Latina e em nível internacional. Esse organizador suscitou e criou um número considerável de acordos e relações para favorecer o reconhecimento e a expansão das comunidades acadêmicas brasileiras em Comunicação. Além de ser um inovador e criador, ele foi um grande facilitador que sabia tornar possível o que parecia impossível!”, afirma o professor Fayard sobre Marques de Melo.

JORNAL INTERCOM – Não é a primeira vez que o senhor aborda o tema da sedução. Fale um pouco sobre sua pesquisa nesse campo.
PIERRE FAYARD – Em 2012, meu livro “Sun Tzu. Estratégia e Sedução” foi editado em português. Esse livro faz uma abordagem da sedução a partir dos 13 capítulos da “Arte da Guerra”, de Sun Tzu, o mais antigo tratado de estratégia e, surpreendentemente, a obra mais lida nos cinco continentes hoje em dia. Nesse texto, explorei as dimensões estratégicas da sedução.

Já em “Doze estratégias para seduzir. A sedução no cinema” (2018), explicito os modelos estratégicos subjacentes de algumas narrativas emblemáticas de sedução em filmes como “Tarzan, o filho da selva” (EUA), “James Bond” (Reino Unido), “Amor à flor da pele” (Hong Kong), “O cais da sombra” (França), e na série “Elementary”, a versão nova-iorquina de Sherlock Holmes. Nesse texto, me autorizei muita liberdade de interpretação e humor, para decifrar estrategicamente as manobras de sedução e, às vezes, propor contraestratégias. Essa obra é também um livro de entretenimento.

JORNAL INTERCOM – Por que o interesse por esse tema?
PIERRE FAYARD – Minha área de pesquisa e de ensino centra-se no impacto das culturas sobre a estratégia, com enfoque particular na chinesa e na japonesa, além das ocidentais (inclusive Estados Unidos e Brasil). Por que isso? Porque não existe informação nem comunicação sem dimensão estratégica! Isso me levou a aprofundar em uma literatura tradicional bem longe das bibliografias usuais nas Ciências da Comunicação, com autores como Sun Tzu, Yamamoto, Musashi, Tucídides, Xenofonte, Julian Corbett, Liddell Hart, John Boyd, Ferdinand Foch, André Beaufre e tantos outros... Na história da humanidade, foram os governantes, militares, comerciantes e ladrões que sempre se preocuparam com a estratégia, experimentando primeiro os potenciais das tecnologias de comunicação para criar modelos que depois inspiraram toda a sociedade. A expansão do Império de Portugal baseou-se, em parte, no domínio sobre a informação (cartas marítimas, técnicas de navegação) e das comunicações marítimas. Mais do que nunca, agora essa verdade se impõe à toda sociedade, tanto no nível profissional quanto no pessoal. É por isso que gosto de dizer que a estratégia em si é a autêntica “prosa da existência”.

JORNAL INTERCOM – Como o senhor descreve sua ligação com o Brasil?
PIERRE FAYARD – Forte e contínua. Tornou-se um componente notável de minha carreira acadêmica e profissional.

JORNAL INTERCOM – Como se deu essa ligação com o Brasil?

PIERRE FAYARD – Cheguei pela primeira vez no Brasil em 1995, convidado como professor visitante pelos professores José Marques de Melo e Isaac Epstein na Universidade Metodista de São Paulo. Desde então, tenho voltado pelo menos uma vez por ano. Entre 2004 e 2008, assumi a direção geral do Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica, do Ministério francês de Relações Exteriores, na Cidade Universitária da Universidade de São Paulo (USP). Também lecionei em várias universidades do país. Desde 2015 sou um dos vice-presidentes do Instituto Franco-Brasileiro de Administração de Empresas (IFBAE), um consórcio que reúne cinco universidades francesas e seis brasileiras. Participei em duplos diplomas e co-orientei várias teses de doutorado brasileiras.

JORNAL INTERCOM – Em sua opinião, qual é o estado atual das relações entre Brasil e França no campo da pesquisa em Comunicação?

PIERRE FAYARD – Insuficiente! Temos tantas razões para cultivar relações e intercâmbios de professores e alunos entre nossas comunidades – não só razões históricas, mas também para fortalecer olhares específicos sobre o mundo da Comunicação e suas áreas de atuação profissional. Hoje em dia, domina a ilusão de que só existiria um pensamento, uma matriz “acultural” de pensar. Apesar de a visão anglo-saxã constituir uma fonte de saber frutífera e interessante, esquecer a dimensão da diversidade cultural é um “pecado acadêmico”, uma enfeudação intelectual que não é digna para nós, acadêmicos, que temos a obrigação política e social de ser livres no pensar! Mas os programas de cooperação não fazem tudo: os pesquisadores têm que se conhecer pessoalmente para dar eficácia a esses programas ou elaborar novos.

JORNAL INTERCOM – Qual é sua conexão com a Intercom?

PIERRE FAYARD – Foi uma conexão contínua até minha entrada no Ministério de Relações Exteriores da França, entre 2004 e 2012. Meu primeiro contato foi com o professor José Marques de Melo, durante um congresso da International Association of Mass-Communication Researchers (IAMCR), no começo dos anos 1990 em Bled, na ex-Iugoslávia). Ele me convidou para ser professor visitante no Brasil. Nesse congresso do IAMCR, que tinha forte participação brasileira, foi criado um Comitê Intercom-SFSIC (Sociedade Francesa de Ciências da Informação e da Comunicação), que organizou um seminário franco-brasileiro, do qual participei, em 1995 em Aracaju (Sergipe). Minha lembrança é de ter participado de cinco encontros da Intercom. Depois de uma temporada no Peru, voltei à França em 2012 e perdi um pouco o contato, porém mantenho uma relação de amizade com o atual presidente da Intercom, professor Giovandro Ferreira (UFBA).

JORNAL INTERCOM – Em sua opinião, que papel a Intercom tem desempenhado nas relações entre pesquisadores brasileiros e franceses?
PIERRE FAYARD – Um papel fundamental, mas, assim como em casais, é preciso que os dois tenham vontade de conviver e colaborar para formar uma dupla fértil. O mais importante consiste em criar oportunidades para os pesquisadores se encontrarem e se conhecerem. Meus colegas franceses não levam muito em conta tudo o que pode ser feito em parceria com o Brasil – país pouco conhecido em sua realidade acadêmica, à parte dos clichês bem redutores. A dimensão institucional de encontros franco-brasileiros nos congressos da Intercom ou da SFSIC é fundamental para dar continuidade e ampliar as colaborações.


JORNAL INTERCOM – Quais outras entidades apontaria como fundamentais para essas relações?

PIERRE FAYARD – A Sociedade Francesa da Ciências da Informação e da Comunicação (SFSIC); evidentemente, a Capes e organismos de fomento de pesquisas como Fapesp e CNPq; e também os Serviços Culturais de Cooperação da Embaixada da França no Brasil podem potencialmente ter um papel importante, mas, para isso, antes é necessário alcançar a massa crítica em número de cooperações e de pessoas envolvidas.

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