6 de novembro de 2018
O I Simpósio Brasileiro de Estudos do Horror e do Insólito (InsolitoCom) reuniu, de 29 a 31 de outubro no campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, cerca de 100 participantes para discutir e refletir sobre a produção cultural de horror e a pesquisa na área. Realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (PPGCOM-UAM), o evento contou com conferencistas tanto da pesquisa em Comunicação como de outras áreas acadêmicas e artísticas, além de promover uma feira de livros, quadrinhos e produtos de horror.
O JORNAL INTERCOM convidou Laura Cánepa, professora da Universidade Anhembi Morumbi e uma das organizadoras do InsolitoCom, para fazer um balanço do simpósio. (Alerta de spoiler: os resultados do evento serão publicados em dossiê temático da revista “Ícone”, publicada pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, em 2019.)
JORNAL INTERCOM – Podemos dizer que o InsolitoCom é um evento acadêmico pioneiro no Brasil?
LAURA CÁNEPA – O InsolitoCom reuniu profissionais e pesquisadores da Comunicação e de diversas outras áreas, como artes plásticas, literatura e quadrinhos, teatro, cinema, TV, antropologia, em torno da temática do horror. Acredito ser o primeiro evento interdisciplinar sobre o tema promovido pelo campo da Comunicação.
JORNAL INTERCOM – O InsolitoCom 2018 cumpriu as expectativas?
LAURA CÁNEPA – Cumpriu muitíssimo bem. As discussões foram muito ricas. E já começaram a surgir novas parcerias durante o próprio simpósio – pessoas que não se conheciam já estabeleceram parcerias para publicações e eventos, e novos trabalhos literários atraíram o interesse das editoras presentes. Tivemos o apoio da editora e sebo Clepsidra, que é especializada em publicações com a temática do insólito, inclusive com um de seus sócios, Cid Vale Ferreira, como convidado na conferência de abertura. A Clepsidra e outras editoras participaram da feira de livros que organizamos durante o simpósio, e houve bastante troca no sentido de futuros projetos – tanto na área de literatura quanto na acadêmica. Também teremos um dossiê temático na revista "Ícone", da Universidade Federal de Pernambuco, que publicará em 2019 trabalhos dos doutores que apresentaram suas pesquisas durante o InsolitoCom, além de entrevistas com participantes.
JORNAL INTERCOM – Terminado o simpósio, como avalia a programação do InsolitoCom 2018?
LAURA CÁNEPA – Todas as mesas foram muito legais, e o evento foi muito variado. Destaco a presença do professor Philippe Met, da Universidade da Pensilvânia, que ministrou o curso "Lovecraft no cinema", no dia 27 de outubro, e fez uma conferência no dia 30: ambos foram muito bem aceitos e mostraram, em relação ao que se faz em outros países que têm uma tradição maior nos estudos do horror e do insólito, como o Brasil está avançado, com pesquisas interessantes e atualizadas sendo feitas. O grande valor do simpósio foi ter reunido esses pesquisadores, o que faz avançar ainda mais o campo. Para os participantes, foi muito bom perceber que há interlocução entre trabalhos que antes estavam sendo feitos isoladamente – e não só dentro do Brasil, mas também interlocução com o que tem sido discutido no exterior. Deu para perceber que o campo de estudos do insólito, em várias mídias diferentes, avançou muito nos últimos 20 anos. A maioria desses pesquisadores estava sozinha no início, e hoje existe uma comunidade importante de pesquisa, inclusive na Comunicação.
JORNAL INTERCOM – Esse simpósio, então, resulta também em um diagnóstico da área do insólito, tanto em termos de estudos quanto de produções?
LAURA CÁNEPA – Exatamente. O diagnóstico é de que esse campo está muito produtivo. Na abertura, tivemos três conferencistas pioneiros, que abriram esse campo no final dos anos 1990: Júlio França (UERJ), que é uma figura importante dos estudos literários no Brasil, particularmente do horror e do insólito; Cid Vale Ferreira, que é editor; e Dennison Ramalho, que é um dos principais nomes no cinema brasileiro. Todos eles destacaram o quanto essa tradição cultural de horror vem se tornando mais importante no Brasil, tanto do ponto de vista acadêmico quanto cultural, nos últimos 20 anos. Suas falas foram extremamente otimistas, no sentido de que hoje há muito mais espaço para que essas questões sejam discutidas. E isso é muito importante na cultura do mundo inteiro: olhar para as experiências que tratam daquilo que é mais violento, negativo e chocante, com uma reflexão de qualidade.
JORNAL INTERCOM – Para a pesquisa, qual é o principal legado dessa primeira edição do InsolitoCom?
LAURA CÁNEPA – Acho que o principal legado é o aspecto multidisciplinar do simpósio. Ter várias áreas diferentes de pesquisa atuando conjuntamente, levando em conta aspectos culturais, midiáticos e artísticos, é muito positivo. Quando se estuda um fenômeno cultural como esse, é preciso articular essa multidisciplinaridade. O estudo do insólito é um ponto de encontro de diferentes áreas, e isso tem muito valor. Há a percepção de que já há muitos doutores trabalhando com essa temática, que podem orientar trabalhos e propor projetos de pesquisa para agências de fomento. Ou seja, ficou muito claro que já temos, hoje no país, uma massa crítica que é multidisciplinar, com um número expressivo de doutores, mestres, doutorandos e mestrandos. Enfim, é uma área em crescimento.
JORNAL INTERCOM – O InsolitoCom terá mais edições?
LAURA CÁNEPA – Vai ter que ter [risos]. Durante o evento, todo mundo estava perguntando quando seria o próximo InsolitoCom; muitas pessoas que não puderam vir estão encantadas e querem participar. Só que percebemos que o simpósio precisará ser muito maior, inclusive porque as falas eram muito variadas e longas – conseguimos cumprir a agenda, mas foi difícil. Havia muito a ser dito e há muitas pessoas incríveis que não puderam participar neste ano. E ainda há muita coisa a ser levantada e descoberta, por exemplo: expressões brasileiras e latino-americanas que ainda são pouco estudadas e uma bibliografia estrangeira, principalmente anglo-saxã, muito robusta que precisa ser lida e discutida criticamente no Brasil.
JORNAL INTERCOM – A ideia é fazer um evento anual?
LAURA CÁNEPA – Tem perna para ser anual, mas existem questões práticas a serem resolvidas. Um tema que atravessou o simpósio inteiro foi o atual momento mundial e brasileiro, e o quanto é importante o estudo sobre as manifestações da negatividade na cultura. O horror tem muito a contribuir, mas, ao mesmo tempo, por ser um assunto que lida com a transgressão e a violência, é uma área que pode vir a ser censurada ou controlada. O insólito e o horror tratam justamente daquilo que foge ao controle, então como trabalhar isso reflexiva e artisticamente num momento em que o mundo está lidando com o autoritarismo? Ao mesmo tempo, é preciso saber refletir sobre esses temas, sobre como a cultura vai manifestar essas preocupações: o que significa pesquisar ou criar artisticamente sobre figuras como vampiros, mortos-vivos, assassinos psicopatas? As pessoas que pesquisam isso têm muito a dizer nesses momentos de insatisfação, sobre como o ser humano funciona e o que está disfuncional na sociedade. Esses estudos têm importância política.
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