Belém, 5 de setembro de 2019
“Para não nos rendermos e termos o que de fato importa
e não cairmos enfermos nos termos da vil cicuta
Para que os nossos infernos não tragam inverno
e a bruta semente do desgoverno de tudo o que nos afronta.
Calma. Alma. Fala. Escuta.”
Com essas palavras, o poeta Renato Torres, acompanhado do instrumentista Armando de Mendonça, deu início à cerimônia de abertura do 42º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2019), que está sendo realizado de 2 a 7 de setembro na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Cantor, compositor e produtor musical, ele levou ao público do congresso uma apresentação carregada de simbolismos e transportou para a forma poética o tema central do evento: “Fluxos Comunicacionais e a crise da democracia”.
A atualidade e a pertinência do tema esteve presente também nas falas dos integrantes da mesa durante a cerimônia: Emmanuel Zagury Tourinho, reitor da UFPA; Marcel do Nascimento Botelho, reitor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA); José Miguel Martins Veloso, diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Aplicadas a Ensino e Extensão (NITAE2); Maria Ataide Malcher (UFPA), coordenadora da Comissão Organizadora local; Margarida Maria Krohling Kunsch (USP), presidente do Conselho Curador da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom); Giovandro Ferreira (UFBA), presidente da entidade.
A professora Maria Ataide mencionou as dúvidas que lhe afligiram durante a organização do evento, frente ao momento difícil que acomete o mundo, o país e, particularmente, as universidades públicas brasileiras, e fez um relato emocionado sobre como foi possível superar esses questionamentos. “Em um sistema democrático e, principalmente, quando existe uma crise, o essencial é resguardar os espaços de debates. Nesse sentido, este congresso e os demais encontros científicos são espaços democráticos, de resistência, de encontro e fortalecimento de nossos ideais, essenciais por reafirmar o pertencimento a uma comunidade”, disse em seu discurso. “Nesses encontros, nos certificamos que não estamos sozinhos! E isso é fundamental ao ser social e gregário que somos, motivo pelo qual esses espaços precisam ser protegidos e garantidos. Assim, a pergunta que me atormentou encontra uma simples resposta: eu, como todos que se envolveram na organização deste evento, estamos resistindo e dando continuidade a nossa missão de ser pesquisadores e fazer ciência. Estamos todos aqui, juntos! Esta é uma de nossas formas de resistência!”
A tradição da Intercom de abordar temas atuais e essenciais à sociedade foi destacada no discurso da professora Margarida Kunsch: “A Intercom sempre busca trazer para o tema de seu evento principal assuntos que estão inquietando a sociedade contemporânea. Esse tema, como foi trabalhado hoje, nos mostrou a complexidade do momento que estamos vivendo. Um momento de incerteza e de cansaço, e muito desafiador.” Ela ressaltou também o apoio das universidades ao evento: “Em nome dos ex-presidentes da Intercom e de todas as diretorias que já passaram pela instituição, quero expressar nosso grande agradecimento aos reitores. Sem o apoio das universidades, é impossível realizar um congresso dessa magnitude. Em nome de todo esse conjunto que construiu a Intercom, eu faço mais uma vez um agradecimento muito carinhoso e especial. Agradeço também a Maria Ataide pela força na organização e aos congressistas: muito obrigada por se inscrever, por apresentar trabalhos, por assistir e por acreditar.”
A importância da realização do evento, mesmo diante dos desafios do contexto atual, permeou o discurso do presidente da Intercom, professor Giovandro Ferreira. “Estar junto com colegas e pares é um motivo de aprofundamento da reflexão sobre temas de nossa área, mas também de retomar o ânimo e a força para continuar a construir a ciência em nosso país. Como já dizia hoje pela manhã nosso palestrante professor Ramón Salaverría, a universidade não é lugar para os cínicos. A universidade é um lugar de crítica e também de proposta, de elaboração, de proposições em defesa e para o avanço da ciência e, por conseguinte, sua contribuição para a diminuição, em diversas frentes, do sofrimento humano, na edificação de uma sociedade mais justa e inclusiva. O Brasil já atingiu o 13º lugar em produção científica no mundo, não podemos regredir e deixar que políticas de governo destruam políticas de Estado. Temos o dever cívico de lutar pela ciência, pela universidade, em nome do presente e também do futuro.”
A comunicação e a interação da universidade com a sociedade foram citadas como caminho essencial para o enfrentamento da crise. Marcel do Nascimento Botelho, reitor da UFRA, citou a necessidade de fortalecimento constante dessas práticas. “Neste momento, as universidades são chamadas a aprender novamente a se comunicarem com a sociedade e com seus próprios entes. A Universidade Federal Rural da Amazônia tem [no Intercom 2019] o espaço chamado Ecos da Amazônia: um exercício de comunicação entre o ensino, a pesquisa, a extensão, o empreendedorismo e a sociedade – uma sociedade que, muitas vezes, é convidada apenas a passar pela universidade. E, às vezes, nós também simplesmente passamos pela sociedade, não vivemos a sociedade”, disse. “Esse espaço faz a tentativa de trazer vozes para dentro da universidade, para que realmente seja sentida como parte da sociedade e para que faça falta.”
O reitor da UFPA, Emmanuel Zagury, encerrou com um discurso forte e categórico em defesa da universidade pública. “Essa onda anticivilizatória não é uma onda, é parte de nossa história social, que nós, acadêmicos, precisamos compreender e combater”, afirmou. “A universidade pública tem compromisso público com a cidadania, com os direitos de todas as pessoas, com a condução da vida digna para todos os povos. É muito significativo que, enquanto vivemos esta onda tão fortemente anticivilizatória, estejamos nos reunindo para fazer um congresso, uma celebração do conhecimento, de nosso esforço para vencer o preconceito, para pensar criticamente nossa realidade, para construir as condições necessárias para superação dos nossos problemas, para promoção da cidadania e para a edificação de uma nação que seja soberana.” Zagury ressaltou também o fato de o Intercom 2019 ser realizado em Belém: “É muito significativo também que estejamos fazendo esta celebração na Amazônia, hoje alvo de ataques que não se traduzem apenas nas queimadas. O que queima é o respeito que deveria haver aos povos da floresta, que conhecem essa região mais do que ninguém, que têm um saber de imenso valor, que têm o direito à vida no ambiente em que sempre viveram e que têm sido expropriados de suas terras, de suas condições de subsistência. Tudo em nome de interesses que nada têm a ver com o desenvolvimento social da região.”
Aplaudido diversas vezes ao longo de seu discurso, Zagury afirmou que as universidades vêm sendo pressionadas a abandonar sua vocação de produção do pensamento crítico. “Cortem as nossas pernas e nós continuaremos sendo pesquisadores. Não estamos aqui para cuidar dos costumes. Estamos aqui para cuidar do conhecimento, da sabedoria. Também já tivemos um momento em que a universidade era um espaço para poucos, e parece que querem que voltemos a ser para poucos. Não voltaremos. Não abrimos mão de um projeto de universidade que seja para todos: para o negro, para o indígena, para o quilombola, para os jovens nas periferias das cidades. Este foi um dos poucos saltos civilizatórios que demos nos últimos tempos e não vamos ceder. Nós não somos uma empresa de negócios. Estamos aqui para construir um futuro para esta nação.”
AMAZÔNIA PRESENTE!
A abertura do Intercom 2019 levou ao público artistas que homenagearam a cultura amazônica em diversas linguagens. Acompanhada da pianista Adriana Azulay, a cantora lírica Márcia Aliverti colocou na voz as lendas da região. O Corpo de Dança da Escola de Teatro e Dança da UFPA intitulou suas apresentações de “Profundezas do Rio e Açaí”, com direção de Jaime Amaral, e trouxe o tempo e os movimentos da natureza a performances contemporâneas, que transportaram a plateia para os rios e florestas. Os tambores e chocalhos do Grupo de Percussão da Escola de Música da UFPA , na apresentação “Árvores que Tocam” (direção de Vanildo Monteiro), tomaram conta do ambiente e convidaram o público a um diálogo sonoro ritmado e emocionante. A festa foi finalizada com uma apresentação do guitarrista e percussionista Félix Robatto e sua banda, que arrastou os congressistas com uma mistura musical cujos ingredientes são as batidas paraenses, a surf music, a música latina e o pop.
O 42º Congresso Brasileiro de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom 2019) segue até 7 de setembro na UFPA, em Belém.
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