CICLO DE ESTUDOS DISCUTIU O PAPEL DAS CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NO COMBATE À DESINFORMAÇÃO

14 de setembro de 2022

Por Laís Karoline Gueiros Guedes, Daniel Nascimento e Caio Guilherme, jornalistas voluntários na cobertura do Intercom 2022 sob supervisão do professor Rodrigo Martins Aragão (UFPB)

O 45º Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, principal evento do 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2022), foi realizado na última quarta-feira (07/09) no Cine Aruanda, no Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa. Centralizando as conversas sobre o tema central do congresso, “Ciências da Comunicação contra a Desinformação”, o Ciclo de Estudos incluiu conferência de abertura com Eugênio Bucci (ECA-USP) e três mesas temáticas com importantes pensadores e pensadoras do campo no Brasil.

"A atividade da comunicação hoje está no centro do capitalismo: a fabricação do valor passa pela comunicação. Trata-se de uma mutação do capitalismo", afirmou Bucci para, em seguida, explicar os conceitos essenciais para se chegar à teoria da superindústria do imaginário: informação, news (notícia), fake news (notícia fraudulenta) e desinformação.

O conferencista fez uma breve conceitualização histórica de informação, desde a Antiguidade clássica até o status de verdade que lhe foi conferido pelo Iluminismo. Abordando os lugares da verdade e da mentira na política trazidos pela filósofa Hannah Arendt, tratou a informação e a verdade como inseparáveis: a primeira servindo como conector dos fatos e a segunda, enquanto verdade factual.

Rechaçando o termo fake news – que se tornou "imprestável" para o campo científico por ter "sentidos voláteis" – Bucci problematizou esse conceito com base nas próprias definições de news e fake news: "Isso [fake news] virou uma espécie de sinônimo de mentira, o que é um perigo. Porque fake news deve ser entendido por nós como uma falsificação de forma antes de ser uma falsificação de conteúdo. Fake news é a forma fraudulenta da news, ou seja, da notícia. A notícia vira uma espécie de linha de costura, a possibilidade da interlocução política em sociedades democráticas. A notícia é um sinal de verdade factual, é uma informação jornalística com força de registro da verdade factual. E é porque isso existia que surgiu, então, a expressão fake news fake news como uma falsificação de forma".

Sendo assim, trouxe à tona o conceito de desinformação teorizado por Claire Wardle, "uma engenharia complexa, mas que tem em geral duas componentes essenciais: uma é a intencionalidade e a outra é a escala". "Se a informação era definida como um conteúdo transmitido de um emissor a um receptor e pressupunha um modelo de comunicação ordenado, estável e previsível, a desinformação só pode ser entendida não como um conteúdo, mas como um ambiente que desagrega os conteúdos e desativa os sentidos técnicos, éticos e estéticos da comunicação."

A partir dessa conceitualização, o professor chegou à superindústria do imaginário – tema de seu livro mais recente “A superindústria do imaginário: como o capital transformou o olhar em trabalho e se apropriou de tudo que é visível” (Autêntica, 2021) –, demonstrando como a comunicação explora sentimentos e ressentimentos em detrimento da verdade factual, de forma a provocar o controle das massas por meio das estruturas das máquinas e dos algoritmos das redes sociais.

Por fim, elencou três proposições acerca do que fora exposto: a comunicação ocupa o centro do capitalismo e das estruturas de poder; o olhar se converteu em força de trabalho (inclusive com mais-valia captada pelas plataformas digitais); e, nessa superindústria, desenvolveu-se um novo patamar de escravização. A grande conclusão foi que a desinformação barra a comunicação entre os seres humanos.

A conferência de Eugênio Bucci está disponível, na íntegra, no YouTube da Intercom. Clique aqui para assistir.

MESA 1
A primeira mesa abordou o tema “Ciências da comunicação e da informação no combate à desinformação”, com mediação de Marialva Barbosa (UFRJ), membro do Conselho Curador da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), e participação de Carlos Frederico Brito D’Andrea (UFMG), Elizabeth Saad (USP), Igor Sacramento (UFRJ) e Joana Belarmino (UFPB).

O primeiro a falar foi Carlos D’Andrea, que tratou dos conceitos de plataformas infraestruturais e como elas operam as dinâmicas desinformativas através de suas várias camadas, que vão mediando a comunicação de dados e carregando visões de mundo.

Em seguida, Elizabeth Saad conversou sobre o conceito de desinformação e o funcionamento dos ecossistemas de propagação a partir de um tripé que encampa os artefatos de comunicação e seus conteúdos focados em desinformar. Como busca de solução, propôs o treinamento do olhar.

O contexto de pós-verdade foi o centro da exposição de Igor Sacramento, que se aprofundou em como essa vocalização se dá por meio das redes sociais. Para isso, fez uma revisão do conceito de boato, apontou a "cisma" como motivadora do negacionismo e questionou se algum dia houve ordem na informação.

Por último, Joana Belarmino relacionou a precariedade da acessibilidade na comunicação e os processos de desinformação, destacando que pessoas com deficiência tornam-se mais vulneráveis nesse contexto e questionando se algum dia houve acesso pleno à informação.

MESA 2
Com o tema "Desinformação plataformizada e violações de direitos humanos", a segunda mesa do Ciclo de Estudos recebeu as pesquisadoras Ana Regina Barros Rêgo Leal (UFPI), Glória Rabay (UFPB), Nina Fernandes dos Santos (INCT.DD) e Vera França (UFMG) para um debate mediado por Adriana Omena (UFU), diretora Administrativa da Intercom.

Discutiu-se o impacto da desinformação em um contexto em que fake news e manipulação são utilizadas em prol de interesses políticos, gerando ameaças à vida e à integridade da população. As integrantes da mesa também ressaltaram o perigo dos discursos de ódio disseminados nas plataformas contra minorias sociais e políticas, relacionando o tema à garantia dos direitos humanos a esses grupos. "Existem vieses na forma como a desinformação é utilizada, na forma política, e dois deles são o de gênero e o de raça", disse Glória Rabay, pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação sobre Mulher e Relações de Sexo e Gênero (NIPAM/UFPB).

Ao final, Ana Regina Rêgo, que é coordenadora da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCd Brasil), avaliou: “Acho que as falas se complementaram e trouxeram informações relevantes, tanto do ponto de vista de uma prática, quanto do ponto de vista teórico".

MESA 3
A pandemia de covid-19 foi a questão central da terceira e última mesa, que buscou responder à pergunta: “Existe vacina para a desinformação?”. Luisa Massarani (Fiocruz), Patrícia Blanco (Instituto Palavra Aberta), Pedro Nunes Filho (UFPB) e Pollyana Ferrari (PUC-SP), mediados por Ivanise Hilbig de Andrade (UFBA), diretora de Documentação e Comunicação da Intercom, falaram sobre o combate à desinformação no cenário da pandemia, marcado pela infodemia.

“As conjunções que atravessam as dinâmicas transfronterísticas expressam a existência e a complexidade de diferentes zonas de conflito, potencializando falsas informações, disputas no campo ideológico, discurso de ódio e extremismo”, comentou o professor Pedro Nunes Filho (UFPB).

Confira as fotos do 45º Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação no site oficial, no Facebook e no Instagram do congresso.

Para saber mais sobre o Ciclo de Estudos deste ano, leia reportagem de Marcello Rollemberg para o Jornal da USP.

O 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2022) ocorreu de 5 a 9 de setembro em João Pessoa, realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e organizado pelo Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA) e pelo Departamento de Comunicação (Decom) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

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