13 de outubro de 2022
O II Encontro da Rede Brasileira de Mestrados Profissionais em Comunicação, realizado no dia 6 de setembro como parte da programação do 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2022), promoveu uma conversa qualificada sobre os atuais desafios desse tipo de pós-graduação no campo comunicacional. Coordenado por Juliano Domingues (Unicap), vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), o evento foi realizado em formato híbrido, com participação remota de convidados(as), transmissão ao vivo no YouTube da Intercom e público presencial no Auditório Sead, no campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
João Batista Cardoso, docente permanente do Mestrado em Comunicação da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), professor visitante na Maestría en Proyectos Sociales de la Universidad Autónoma de Baja California (UABC, México) e professor no Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie (CCL/UPM), fez a mediação no encontro, que contou com a participação de Alexandre S. Kieling, professor do programa de Mestrado Profissional Inovação em Comunicação e Economia Criativa, professor da graduação em Comunicação e coordenador da pós-graduação lato sensu Narrativa Transmídia da Universidade Católica de Brasília (UCB); João José Azevedo Curvello, professor adjunto da Universidade de Brasília (UnB) e secretário-geral da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós); e Zulmira Nóbrega, professora associada da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde atua como coordenadora do Mestrado em Jornalismo Profissional.
Cardoso abriu o encontro ressaltando que, embora tenha surgido nos anos 1990 no Brasil, a modalidade profissional de pós-graduação stricto sensu tem apenas dez anos no campo da Comunicação. "Uma questão central é que, nos últimos anos, a pós-graduação tem passado por uma de suas maiores crises [...] [e] é nesse ambiente que os mestrados profissionais em Comunicação começam a se consolidar", afirmou. Entre os desafios elencados pelo mediador, estão: a descontinuidade de programas, o que tem interrompido pesquisas em andamento e afetado a perspectiva de criação de doutorados profissionais; a falta de financiamento tanto público (uma vez que não há bolsas regulares para essa modalidade de pós-graduação, que não é contemplada pela Portaria Capes 155/2022) quanto de investimento privado (pela “falta a percepção de grande parte das empresas sobre o benefício de financiar a pesquisa na área de Comunicação”); e, no campo simbólico, o desprestígio crescente da pesquisa e da academia no Brasil, o que dificulta ainda mais a aproximação entre pesquisadores(as) e mercado.
"Diante desses e de outros problemas, precisamos pensar as especificidades do programa [profissional] se comparado ao acadêmico – não só a questão da bolsa, mas a própria prática da pesquisa. O procedimento de pesquisa aplicada é algo muito novo para a área de Comunicação. A grande maioria dos programas profissionais foi formada em cursos acadêmicos, então é algo que estamos ainda aprendendo", concluiu.
Nesse sentido, Alexandre Kieling explicou o principal desafio metodológico dos mestrados profissionais: “Esse me parece ser o grande desafio, porque nem todos conseguimos ainda atravessar essa ponte [entre pesquisa teórica e aplicada]. E esse seria o primeiro movimento. Quando a gente parte de um programa acadêmico para um programa profissional, então esse desafio ganha uma grande dimensão, porque não faz sentido um programa profissional existir sem que o objeto principal dele seja a pesquisa aplicada". Segundo Kieling, os(as) orientadores(as) precisam sair de sua “zona de conforto” – que é a pesquisa teórica – e passar por um processo de aprendizagem e de abertura a outros campos do conhecimento. "Me parece que o principal desafio do mestrado profissional é ele sair da perspectiva analítica do fenômeno e começar a fazer parte da construção do fenômeno, e isso é extremamente complexo. A gente está acostumado a pegar resultados de determinadas práticas, comportamentos, movimentos e analisar – isso a gente tem feito com grande maestria. Mas agora [...] a gente precisa entrar no processo, precisa correr risco, precisa experimentar, sobretudo no campo profissional da pesquisa", afirmou, acrescentando que "a pesquisa aplicada não pode ser tratada como uma pesquisa menor."
Sobre a relação entre academia e sociedade, Kieling lembrou que, na América Latina e especificamente no Brasil, a universidade desenvolveu-se como instituição apartada da sociedade, mas agora está em um movimento de reaproximação; essa reaproximação envolve também o diálogo com a iniciativa privada – para contribuir de fato para a redução das desigualdades e para impulsionar investimentos privados e, até mesmo, públicos. "Eu não posso ter medo de colocar um laboratório com o nome de uma empresa dentro do meu curso. Não há nenhum pecado nisso, desde que [a empresa] ponha o nome da instituição [de ensino] nas coisas que ela descobriu”, afirmou. “Se a gente quer transformar, botar os profissionais em outro patamar, também puxa os acadêmicos, que estão passando por um processo de isolamento absurdo porque sua base está no setor público e o setor público está sendo sucateado. [...]Quando a gente traz demandas da sociedade para dentro [da academia], aumenta a capacidade de financiabilidade."
João José Azevedo Curvello reforçou as questões financeira, conceitual e programática como estando entre as principais preocupações da Compós em relação à pós-graduação profissional. Segundo ele, essa modalidade teve um crescimento exponencial em anos recentes, passando de um único programa na área de Comunicação em 2013 (o mestrado profissional em Jornalismo da UFPB) para nove em 2019 (além de outros oito em Ciência da Informação e dois em Museologia). "Esses programas têm trabalhado demais para aumentar suas notas e há uma expectativa de que a maior parte dos programas realmente tenha subido de nota. Isso possibilitaria aos programas se habilitarem para a oferta de doutorados profissionais. Mas nossa área [...] ainda manifesta uma certa dúvida, para não dizer insegurança, em definir exatamente o que vem a ser o doutorado [profissional]", explicou. "Há uma certa simpatia, ou um desejo, de que os programas profissionais alcancem o status de terem também o doutorado, na expectativa de formação de doutores para além do campo do ensino e da pesquisa, mas também doutores capazes de influenciar políticas públicas, desenvolvimento de produtos, serviços e processos, e que contribuam de alguma forma para a melhoria das condições de vida. Ou seja, uma produção que seja também engajada com os anseios e as necessidades da sociedade."
Entre as questões a serem resolvidas, Curvello destacou: a diferenciação entre mestrados profissionais e cursos de pós-graduação lato sensu; a autossustentação dos programas profissionais (com apoio da iniciativa privada beneficiada pelas pesquisas); a possibilidade de haver cursos temporários, a serem extintos assim que atenderem à demanda específica para a qual foram criados; a superação do preconceito de que atender a demandas da iniciativa privada seria “vender a alma”; desenvolvimento de inovações tecnológicas e sociais dentro desses programas.
Quanto à inovação, o secretário-geral da Compós ressaltou que o isolamento da academia reduz sua relevância como vanguarda e, portanto, para que produza inovação, é preciso que se articule tanto com o poder público quanto com a iniciativa privada. Quanto aos outros desafios, apontou algumassoluções possíveis: a busca de financiamento junto a fundos setoriais e o chamado “segmento dois e meio” (que inclui, por exemplo, negócios de impacto e empreendimentos sociais); associação com outros programas, inclusive acadêmicos; e reestruturação da avaliação dos programas, talvez com uma seleção mais restrita de produções a serem avaliadas.
Por fim, Zulmira Nóbrega fez uma explanação sobre os principais desafios enfrentados pelo Mestrado em Jornalismo Profissional da UFPB, o primeiro dessa modalidade no campo da Comunicação e que está completando dez anos de existência. “Com relação aos recursos públicos, não temos – não temos bolsas da Capese mesmo os poucos recursos [...], como bolsas para programas com nota 3 e 4, não contemplaram os mestrados profissionais”, ressaltou. Em seguida, apontou que é necessário criar produtos, processos e práticas de pesquisa aplicada, o que é dificultado pela própria Capes – “até mesmo uma coisa mínima, de inserção [dos projetos de pesquisa] na plataforma Sucupira”, é dificultada – e por questões como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e os comitês de ética. “Tem que haver um entendimento do [que é um] trabalho final de mestrado profissional em relação a uma dissertação acadêmica", concluiu.
Assista à íntegra do II Encontro da Rede de Mestrados Profissionais em Comunicação no canal da Intercom no YouTube.
O 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2022) reuniu cerca de 1,7 mil pessoas entre os dias 5 e 9 de setembro em João Pessoa, realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e organizado pelo Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA) e pelo Departamento de Comunicação (Decom) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com coordenação de Norma Meireles, professora da UFPB e diretora Regional Nordeste da Intercom. Saiba mais.
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