MULHERES NA PESQUISA EM COMUNICAÇÃO

8 de março de 2023

A Comunicação é, assim como outras áreas das Ciências Humanas, majoritariamente feminina. A Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), enquanto maior e mais abrangente associação de pesquisa no campo, pode servir de fundamento para essa afirmação: na média histórica, cerca de 60% dos participantes nos congressos nacionais da Intercom têm sido mulheres – atingindo a marca de 65% na 45a edição, em 2022 –, segundo as pesquisas de satisfação realizadas a cada ano; dos 33 Grupos de Pesquisa atuais, 20 são coordenados por mulheres; na gestão 2021-2023, a Diretoria Executiva é composta por nove professoras e seis professores; e a presidência da entidade já foi conduzida por seis mulheres que são grandes referências das Ciências da Comunicação: Anamaria Fadul, Margarida Maria Krohling Kunsch, Maria Immacolata Vassallo de Lopes, Cicilia Krohling Peruzzo, Sonia Virgínia Moreira e Marialva Barbosa.

Margarida Kunsch, professora emérita da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e presidente do Conselho Curador da Intercom, conta que seu percurso acadêmico se deve principalmente a sua persistência e sua perseverança. De fala tranquila e pausada, ela se considera uma exceção positiva de uma geração de mulheres que precisavam “falar mais alto” para serem ouvidas. “Eu, particularmente, quando abracei a carreira acadêmica, não senti empecilhos impostos por parte de lideranças masculinas, pois o ambiente na ECA-USP era muito plural. Ainda assim, fui a primeira mulher a assumir a direção da escola, em 2013, quando ela estava prestes a completar 50 anos”, afirma, para, em seguida, analisar a questão de gênero e diversidade nas organizações corporativas (sua área de pesquisa): “Nos cargos de liderança em geral, ainda há um domínio de homens. As empresas pregam muito a diversidade no mundo corporativo, mas ainda há muito a avançar, em relação tanto às mulheres como à diversidade LGBTQIA+. Além disso, a disparidade salarial ainda é um obstáculo a ser vencido. Apesar das conquistas, dentro da nossa realidade brasileira ainda há uma diferença muito grande. Tanto que mulheres ocupando cargos de liderança são manchete”.

Segundo o relatório As dificuldades dasmulheres chefes de família no mercado de trabalho, publicado neste mês pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad) relativos ao terceiro trimestre de 2022, as mulheres ganharam 21% a menos do que os homens; na área de educação, saúde e serviços sociais, elas representavam 75% dos ocupados e tinham rendimentos médios 32% mais baixos. E, do total de pessoas desempregadas, 64,5% eram mulheres. “A desigualdade de gênero e raça/cor no mercado de trabalho afeta intensamente a qualidade de vida de todos os membros das famílias”, conclui o relatório. Na questão da liderança, a realidade política brasileira é um indicador exemplar das diferenças: conforme aponta o relatório do Dieese, as candidaturas femininas até aumentaram (33,3%) nas eleições de 2022, mas apenas 302 mulheres se elegeram para as casas legislativas federais e estaduais e governos estaduais, contra 1.394 homens.

Voltando à realidade da pesquisa no Brasil, uma reportagem veiculada na sexta-feira (03/03) no Jornal da Unesp aponta que, segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), 54,2% das pessoas matriculadas em programas de pós-graduação stricto sensu e 58% das que recebem bolsa são do gênero feminino. “Esse equilíbrio, no entanto, fica apenas no campo da formação. Quando o foco de análise de igualdade de gênero se desloca para a carreira docente e a ocupação de cargos de liderança acadêmica, as mudanças caminham a passos muito lentos. Um comparativo feito pelo Laboratório de Estudos sobre Educação Superior (LEES) da [Universidade Estadual de Campinas] Unicamp mostra que, enquanto 51% dos títulos de doutorado entre 1996 e 2014 foram obtidos por mulheres, o número de mulheres docentes nas universidades cresceu apenas 1%, de 44,5% para 45,5%”, informa a matéria.

Embora não haja dados abrangentes sobre as Ciências da Comunicação, alguns dados alertam que a predominância masculina na liderança acadêmica também afeta áreas desse campo. Por exemplo, um estudo (CAJAZEIRA, 2020) analisou os currículos Lattes de 181 docentes de cursos de Jornalismo em universidades federais localizadas no interior do Brasil, verificando que havia mais líderes homens de grupos de pesquisa no período investigado (2013-2017).

De acordo com dados mais atuais compilados pela socióloga Claudia Monteiro Fernandes em sua tese de doutorado, defendida em 2021 na Universidade Federal da Bahia (UFBA), “entre os professores de universidades e do ensino superior, houve uma redução da proporção de mulheres, que eram maioria em 2010 (53,8%) a passaram a ser 44,2% em 2019. O mesmo movimento foi constatado com o crescimento na presença de professores negros, mas uma queda na proporção de mulheres negras, o que confirma o crescimento de homens na categoria”, escreve. Ainda assim, na grande área de Ciências Sociais, Comunicação e Informação, 52,6% dos docentes eram mulheres em 2019.

Margarida Kunsch destaca que a forte presença feminina tem pautado as pesquisas em Comunicação, contribuindo para as discussões sobre gênero na academia e na sociedade brasileiras. “Um exemplo é o número mais recente da Organicom – Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas, que traz o dossiê ‘Mulheres e Feminismos: teorias, reflexões e processos comunicativos’. O grande número de artigos submetidos ao dossiê é uma sinalização de que essa temática passou a ser uma prioridade em nossa área”, avalia.

No 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2022), pelo menos 31 artigos apresentados nos GPs abordaram questões de gênero (e interseccionalidades) em seus títulos, resumos e palavras-chaves, de acordo com levantamento feito pelo JORNAL INTERCOM em consulta aos Anais.

Todos esses dados mostram que o campo científico e acadêmico da Comunicação pode celebrar conquistas importantes. Porém, a desigualdade de gênero persiste e as mulheres ainda têm um longo caminho para ocupar os devidos espaços na ciência. Nessa luta contínua, produção de conhecimento e discussão qualificada pautam políticas públicas e institucionais, principalmente neste momento de reconstrução da universidade, da pesquisa, da sociedade e da democracia no Brasil.

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