25 de outubro de 2023
“Comunicação em tempos de inteligência artificial: ampliação ou redução das desigualdades sociais” é o tema central que vai nortear as discussões na Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) em 2024, com o ponto alto no 47º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2024), no campus de Balneário Camboriú da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina.
O tema é resultado da participação ativa da comunidade Intercom, por meio de um processo colaborativo de escuta capitaneado pelas coordenações dos Grupos de Pesquisa (GPs) e Intercom Júnior (IJ). A maioria das sugestões coletadas e sistematizadas nesse processo propunham debater a inteligência artificial, que a Diretoria Executiva também entende como um tema urgente para nosso campo e para a sociedade.
“O desenvolvimento acelerado e a diversidade de aplicações de tecnologias baseadas em inteligência artificial têm impactado a vida social em seus mais distintos aspectos e dimensões, incluindo o campo da Comunicação. O debate sobre os interesses, sentidos e propósitos associados ao desenvolvimento tecnológico renova, então, sua relevância, ao ser analisado sob múltiplas perspectivas, com destaque para sua relação com o aprofundamento ou a redução de desigualdades. Em países como o Brasil, em que persistem abismos estruturais históricos, essa parece ser uma questão incontornável. Não por acaso, a temática emergiu como prevalente entre as proposições para o congresso de 2024”, afirma Juliano Domingues (Unicap), presidente da Intercom. “O tema pretende ser um convite à reflexão qualificada e ao debate guiado pelo rigor científico durante todo o ano que separa um congresso nacional do outro. A nossa expectativa, portanto, é de que questões dessa natureza alimentem eventos preparatórios para nosso grande encontro nacional nos mais diversos ambientes, dentro e fora das universidades e centros de pesquisa. Esse é um dos papéis fundamentais da Intercom.”
Confira abaixo a ementa do tema central Intercom 2024 e vá se preparando!
Tema
Comunicação em tempos de inteligência artificial: ampliação ou redução das desigualdades sociais
Palavras-chave
Inteligência Artificial; Algoritmos; Discriminações; Desigualdades; Democracia.
Resumo
O desenvolvimento de aplicações baseadas na tecnologia de inteligência artificial (IA) tem se popularizado de forma acelerada em nível global, impactando nas relações econômicas e políticas e alterando significativamente as dinâmicas das relações culturais e sociais.
Esse contexto de crescimento da mediação ou mesmo execução de diferentes atividades humanas pelas tecnologias digitais, particularmente a inteligência artificial, que vem acompanhado de uma ideia de que as máquinas seriam mais eficientes que os humanos, diz respeito a uma racionalidade algorítmica (Bruno, 2019), paradigma de racionalidade em que os algoritmos ocupam espaço determinante na captura e análise de dados pessoais, nos processos de conhecimento e na tomada de decisões em diferentes áreas da vida social e das políticas públicas.
Nas Ciências da Comunicação, o cenário é também de profundas transformações a partir do uso da IA no audiovisual, na comunicação organizacional, na publicidade, no entretenimento e no jornalismo. Sobre isso, estimativas indicam que entre 8% e 12% das tarefas dos jornalistas já são hoje desenvolvidas por sistemas automatizados (Cardoso e Baldi, 2021). A criação cada vez mais comum de filmes e séries de TV baseada em dados e informações que os usuários fornecem aos proprietários das plataformas é outra tendência que se verifica em todo o mundo. Outro exemplo é a criação de setores específicos em redações de jornais para a produção de notícias automatizadas.
Por outro lado, manifestações como os atos públicos de atores/atrizes e roteiristas de cinema nos Estados Unidos contra a utilização de IA para desempenhar suas funções ou os protestos de jornalistas contra o uso da tecnologia para apuração, escrita e diagramação de textos noticiosos indicam que alguns limites devem ser preservados.
De um modo geral, três questões têm sido apontadas como prioritárias a observar na relação entre Inteligência Artificial e Comunicação: a) os riscos de ampliação da lacuna entre as grandes e pequenas empresas dos setores de audiovisual, entretenimento e jornalismo; b) a importância de alfabetização em dados, no sentido de qualificação dos profissionais para novas habilidades; e c) os desafios éticos (Kaufman, 2021).
O caso brasileiro é particularmente importante de ser compreendido e discutido. Isto porque o Brasil é o país da América Latina em que mais se faz uso de recursos da Inteligência Artificial (SAS, 2022) e o quarto, em todo o mundo, onde há maior confiança da população na IA (Gillespie, Lockey, Pool e Akbari, 2023).
O recente anúncio publicitário que “recriou” Elis Regina, e teve expressiva visibilidade, é emblemático sobre a necessidade de uma discussão ampla a respeito dos potenciais e também dos limites da Inteligência Artificial na comunicação.
No contexto do Brasil, caracterizado por uma série de desigualdades estruturais, inclusive no acesso às tecnologias digitais, algumas questões devem ser analisadas com ainda maior importância. “Quem está sendo impactado negativamente por essas tecnologias?”. Essa é, para a pesquisadora Nina da Hora (2022), a pergunta essencial no debate sobre ética e inteligência artificial. A autora alerta que “se os dados já historicamente carregam preconceitos, o programa [baseado em IA] reproduzirá esses preconceitos”.
O questionamento feito por Nina da Hora é bastante oportuno, especialmente considerando que, neste momento, está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei 2338/2023, que “estabelece normas gerais de caráter nacional para o desenvolvimento, implementação e uso responsável de sistemas de inteligência artificial (IA) no Brasil, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais e garantir a implementação de sistemas seguros e confiáveis, em benefício da pessoa humana, do regime democrático e do desenvolvimento científico e tecnológico”.
Diante deste panorama, é indispensável o aprofundamento das reflexões e formulações sobre as implicações sociais e éticas das tecnologias de Inteligência Artificial como forma de antecipar e mitigar danos que, em sentido contrário, podem ser irreversíveis para o conjunto da sociedade, sobretudo as populações vulnerabilizadas.
A respeito disso, o pesquisador Tarcízio Silva (2023) sugere cinco compromissos que servem como importante base para a discussão: a inclusão de comunidades impactadas pelas tecnologias digitais nos debates sobre regulação; o compromisso de que mecanismos de governança em construção, a exemplo dos relatórios de impactos algorítmicos, se transformem em mecanismos públicos e participativos; a construção de mecanismos de apoio a comunidades vulnerabilizadas, inclusive no oferecimento de recursos, que superem os gatekeepers tradicionais; a inclusão de stakeholders no campo da educação, como professores(as) de ensino médio, que possam engajar mais pessoas; foco nos objetivos e impactos no debate público sobre IA, avançando para o conceito de justiça algorítmica.
Referências
Brasil. (2023). Projeto de Lei 2338/2023.
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/157233
Bruno, F. (2019). Tecnopolítica, racionalidade algorítmica e mundo como laboratório. Entrevista concedida ao Digilabour. Disponível em:
Da Hora, N. (2022). Ética em IA: a pergunta que não estamos fazendo. MIT Technology Review. https://mittechreview.com.br/etica-em-ia-a-pergunta-que-nao-estamos-fazendo/
Gillespie, N., Lockey, S., Curtis, C., Pool, J., & Akbari, A. (2023). Trust in Artificial Intelligence: A Global Study. The University of Queensland and KPMG Australia. https://static.poder360.com.br/2023/03/Inteligencia-Artificial-2023.pdf
Kaufman, D. (2021, 6 agosto). Inteligência Artificial no Jornalismo: ameaça ou oportunidade? Época Negócios. Disponível em:
SAS. (2022). Avanços na cultura organizacional baseada em dados, analytics e IA. https://www.sas.com/pt_br/news/press-releases/2022/october/brasil-e-o-pais-mais-avancado.html
Silva, T. (2023). Como circular informações sobre IA, riscos e governança? https://tarciziosilva.com.br/blog/como-circular-informacoes-sobre-ia-riscos-e-governanca/
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