23 de janeiro de 2025
A percepção sobre uma classe profissional fortemente atingida pela polarização política vivida na história recente do país e seus reflexos na compreensão individual e coletiva desse profissional brasileiro. Essa foi uma das inquietações que o pesquisador João Paulo Saconi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), buscou explorar em seu estudo de mestrado.
Com orientação do professor Muniz Sodré, a pesquisa “Vocês da imprensa: dimensões coletivas e individuais da violência contra jornalistas no acirramento sociopolítico brasileiro de 2013 a 2023” foi a vencedora da categoria mestrado acadêmico, do Prêmio Intercom de Pesquisa em Comunicação 2024.
Segundo o autor, a pesquisa parte da percepção de que a imprensa é, muitas vezes, tratada como uma comunidade interpretativa à parte da sociedade - por isso o “vocês da imprensa” -e, a partir disso, passa a ser hostilizada por parte dos membros desse tecido social.
“Analiso estatísticas sobre a violência contra profissionais de mídia mapeadas desde os anos 1990 por entidades de classe. E identifico que o período de polarização política que se estende das Jornadas de Junho de 2013 até 2024 concentra um volume superior a 80% dos casos de ameaças, intimidações, linchamentos virtuais, atentados e até assassinatos, entre outros. Assim, passo a buscar experiências compartilhadas entre as vítimas, por meio de uma pesquisa quantitativa com 203 pessoas que trabalham nas principais redações dos países”, detalha João.
Segundo ele, os resultados revelaram quantas delas já foram atacadas, de que maneira e com que frequência o fenômeno aconteceu, quais suportes receberam, quem formou as redes de apoio e de que maneira passaram a agir para evitar novos achincalhes. Essas são as dimensões coletivas. Na sequência, João analisou em profundidade, por meio de perfis jornalísticos, as histórias de vida de profissionais que foram alvo de casos célebres durante a década observada na dissertação. A escolha pelo tema da pesquisa partiu de um episódio vivido na profissão.
“Uma experiência profissional pela qual passei em 2019, após escrever uma reportagem sobre membros da família do então presidente do país. A reação ao que publiquei me deixou assustado e, ao mesmo tempo, intrigado para entender se aquela era uma experiência única ou se existiam sensações compartilhadas com os colegas de profissão. Então, fui pesquisar”, relembra.
Mas, para além da inquietação pessoal, a pesquisa traz luz a um tema que necessita de debate, atenção e vigilância. “Embora o Jornalismo seja passível de críticas (legítimas, inclusive), a repetição desses episódios impacta as liberdades de expressão e de circulação de informações de uma democracia. Para fiscalizar, apurar, analisar e reportar, um profissional de mídia precisa de um ambiente seguro, dentro e fora da redação e da sua casa. As ondas de ataques após publicação ou veiculação de conteúdos jornalísticos desfazem qualquer barreira de segurança, sobretudo quando acompanhadas de campanhas de difamação ou doxxing (vazamento de dados pessoais) via redes sociais. Assim, o trabalho do jornalista ganha obstáculos que podem inviabilizá-lo, privando a audiência de informações”, pontua o pesquisador premiado.
O elo entre academia e mercado de trabalho, colocado em prática por João, resultou em uma pesquisa coesa que exalta a importância de um caminho conjunto para a Comunicação. “Desde a graduação, eu entendi que a academia poderia ser um lugar seguro em que eu pudesse refletir sobre a minha prática jornalística fora da universidade. Quando me deparei com novos desafios na redação, busquei a pós-graduação para pesquisá-los. O prêmio inesperado, mas recebido com muito carinho, veio para completar esse ciclo de descoberta e aprendizado. Espero que, como aconteceu comigo, outros estudantes se sintam realizados ao receber esse incentivo único e muito, muito especial”, celebra.
A iniciativa do Prêmio Intercom de Pesquisa em Comunicação é promovida pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) desde 2022, quando substituiu os Prêmios Estudantis, que até então eram outorgados pela entidade, com um formato diferente de inscrição.
Com o propósito de valorizar a produção científica na área da Comunicação no Brasil, a partir do reconhecimento da qualidade das pesquisas produzidas, individualmente, pelos cientistas do país, o Prêmio reconhece trabalhos de acadêmicos(as) brasileiros(as) nas categorias Doutorado, Mestrado Acadêmico, Mestrado Profissional e Graduação (Trabalho de Conclusão de Curso - monografia). As pesquisas são avaliadas seguindo os critérios contribuição para a área, relevância e atualidade do tema, abordagem teórico-metodológica e qualidade do texto.
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