Belém, 5 de setembro de 2019
O segundo dia do 42º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2019), que está sendo realizado de 2 a 7 de setembro na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, foi marcado pela assinatura de um acordo bilateral entre a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e a Associação Boliviana de Investigadores da Comunicação (Aboic). O acordo foi o ponto de partida do I Colóquio Brasil-Bolívia, que, por sua vez, integrou a programação do IV Colóquio Latino-americano (Pan-amazônico) de Ciências da Comunicação, no qual pesquisadores de cinco países da região indicaram caminhos para a construção e o fortalecimento do pensamento comunicacional latino-americano.
O acordo bilateral assinado no dia 2 de setembro estabelece estratégias para a Intercom e a Aboic promoverem a aproximação de pesquisadores brasileiros e bolivianos, como parcerias em pesquisa, publicações conjuntas, intercâmbios e eventos. Além disso, prevê a realização do colóquio a cada dois anos, com sede alternada entre os dois países – a próxima edição será, portanto, em 2021 na Bolívia.
“Esta iniciativa parte de olhar nossa região e, além de estabelecer um acordo formal, busca uma ação concreta para que os sócios das duas instituições contribuam para a construção do pensamento latino-americano em Comunicação”, afirmou Karina Olarte Quiroz, presidente da Aboic. Pouco antes do ato de assinatura, a professora Karina entregou um presente à Intercom, que foi representada por sua diretora de Relações Internacionais, Roseli Fígaro (USP). “A afetividade é fundamental para o trabalho sério se realizar”, afirmou a professora Roseli ao agradecer.
Após assinarem o acordo Intercom-Aboic, as duas professoras chamaram à mesa pesquisadores dos dois países, que fizeram uma breve exposição dos temas que estão trabalhando e que têm potencial para parcerias.
Do lado brasileiro, Daniela Cristiane Ota (UFMS/Intercom) relatou suas pesquisas em fronteiras, destacando a fronteira seca entre o Mato Grosso do Sul com a Bolívia e o Paraguai; Marluce Zacariotti (UFT) falou sobre iniciativas do curso de Jornalismo (como o Clube de Jornalismo, no qual já há um histórico de intercâmbio com Portugal) e de linhas de pesquisa no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Tocantins; e Juliano Mendonça Domingues da Silva (Unicap/Intercom) explicou seu atual projeto de mensuração do mercado de mídia no país, cujos parâmetros podem ser replicados na Bolívia e outros países sul-americanos.
Da mesma forma, três pesquisadores bolivianos falaram sobre seus estudos atuais. Jenny Ampuero, da Universidad Autónoma Gabriel René Moreno, fez uma breve apresentação do sistema universitário boliviano e mostrou os resultados de um levantamento sobre as carreiras de Comunicação no país, apontando deficiências que podem ser reduzidas com o acordo. Já Roberto Fernandez Terán, da Universidad Mayor de San Simón, fez uma explanação sobre a situação socioeconômica boliviana e indicou seu interesse por temas como poder, sindicalização camponesa, estruturas hierárquicas e modelo extrativista para que a comunidade acadêmica sul-americana possa ir além do discurso anticolonialista. “Temos lindos trabalhos que ninguém conhece. Precisamos compartilhar informações, o que supõe um compromisso de luta política ao lado de quem está de fato sofrendo. A quem estiver interessado, gostaria de trabalhar com vocês”, afirmou. Por fim, Erick Torrico, da Universidad Simón Bolívar e uma das principais referências bolivianas das Ciências da Comunicação, lembrou o histórico das relações bilaterais, citando especialmente o professor José Marques de Melo, Muniz Sodré (UFRJ), Cicilia Peruzzo (UAM) e Margarida Kunsch (USP), bem como a professora Maria Immacolata Vassalo Lopes (USP), que estava na plateia. “Tomamos muitos elementos do Brasil para a construção da pesquisa boliviana em Comunicação, por isso lhes devemos bastante. Agora, creio que todos estamos comprometidos a trabalhar juntos”, afirmou o professor Torrico.
IV COLÓQUIO LATINO-AMERICANO (PAN-AMAZÔNICO)
Com pesquisadores de Brasil, Bolívia, Colômbia, Venezuela e Equador, a quarta edição do Colóquio Latino-americano promovido pela Intercom, nos dias 2 e 3 de setembro, teve um viés pan-amazônico na abordagem de seu tema central: “O pensamento comunicacional latino-americano, território e descolonização”.
Os participantes apresentaram, ao longo de três mesas, ideias para que o pensamento em Comunicação na região se desvincule das tradições europeia e norte-americana, buscando estabelecer parâmetros próprios para que as pesquisas contribuam para a democracia nos países latino-americanos.
Participaram do evento o venezuelano Adrian José Padilha Fernandez (UNESR), o colombiano José Miguel Pereira Gonzalez (PUJ), a equatoriana Gissela Dávila (Ciespal), os bolivianos Karina Olarte (Aboic) e Erick Torrico (Universidad Simón Bolívar) e os brasileiros Vilso Junior Santi (UFRR), Dennis de Oliveira (USP) e Sandro Adalberto Colferai (UNIR). As mesas foram mediadas por Roseli Fígaro, Giovandro Ferreira (UFBA/Intercom) e Allan Soljenítsin Barreto Rodrigues (UFAM/Intercom).
“Nossa conjuntura social está sendo analisada com outra lupa. Estamos gerando nossa própria Comunicação e, ao invés de lutar por espaços, estamos criando os nossos próprios. A proposta é também transformar a educação e fazer pesquisas a partir dessa realidade”, afirmou Gissela Dávila. Como presidente do Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina (Ciespal), a professora Gissela apresentou algumas propostas, tais como: pesquisadores irem a campo para vivenciar outras realidades e aproveitar a sabedoria já existente nelas; voltarem a perguntar sem medo; fortalecerem os espaços próprios da pesquisa; e divulgarem seus estudos, inclusive na Wikipedia. “Coloco à disposição dos pesquisadores brasileiros a casa editorial do Ciespal, que é um dos principais espaços de divulgação do pensamento regional. Convido-os também a enviar trabalhos à revista ‘Chasqui’, na qual se plasmou o pensamento latino-americano”, afirmou.
No dia 3, Edna Maria Ramos Castro, professora titular da UFPA e pesquisadora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) na mesma instituição, proferiu a conferência “Experiências transnacionais latino-americanas de pesquisas”. “Fiquei muito agradecida por ser convidada a falar sobre decolonialidade e América Latina, porque eu acho que é muito importante, tanto para a universidade quanto para os pensadores e para os movimentos sociais, fazer uma desconstrução do pensamento dominante na região, que ainda é colonial. Isso é uma base estruturante da concepção de sociedade que temos”, afirma a professora Edna Castro. “Procurei mostrar a pluralidade e a diversidade de epistemes.”
O 42º Congresso Brasileiro de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom 2019) segue até 7 de setembro na UFPA, em Belém.
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