27 de março de 2025
Os nove estados da região Nordeste podem contar agora com o empenho, parceria, dedicação e trabalho do novo diretor da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Richard Santos (UFSB) assume com o propósito de pautar sua gestão em iniciativas para fortalecer e expandir o campo da Comunicação na região.
“Reconheço que o mercado de comunicação está em constante transformação, impulsionado pelas novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), o que demanda uma formação acadêmica alinhada a essas mudanças. Nesse contexto, é fundamental promover a integração entre as instituições de ensino superior do Nordeste, incentivando a criação de cursos que atendam às demandas emergentes do mercado, e fomentar a pesquisa aplicada em comunicação, especialmente em temas como inovação e jornalismo digital, áreas que têm se destacado na produção acadêmica regional”, aponta.
Para apresentar o novo diretor à toda a comunidade da Intercom, trazemos nesta edição uma entrevista completa com Richard, novo membro da diretoria que integra os demais nomes já conhecidos da atual gestão.
Richard Santos, nome social de Hamilton Richard Alexandrino Ferreira dos Santos. Atualmente, é escritor, pesquisador, docente e extensionista na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Na mesma instituição, propôs e coordenou a criação do curso de Jornalismo. Coordena o Grupo de Pesquisa Pensamento Negro Contemporâneo e o Programa de Extensão Jornada do Novembro Negro e é membro do Grupo de Pesquisa Comunicação Antirracista e Pensamento Afrodiaspórico da Intercom.
É pós-doutor em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (UnB) e mestre em Comunicação pela Universidade Católica de Brasília. É membro da Latin American Studies Association (LASA) e do Observatório do ODS 18. Coordena o selo literário Pensamento Negro Contemporâneo, uma iniciativa da Editora Telha.
É autor dos livros “Maioria Minorizada – Um dispositivo analítico de racialidade” (2020), “Branquitude e Televisão – A nova África (?) na TV pública” (2ª edição, 2021) e “Mídia, Colonialismo e Imperialismo Cultural – O caso comparado da TV Pública no Brasil e na Argentina” (2023), todos publicados pela Editora Telha.
Sua história com a Intercom começou em 2013, quando cursava o mestrado na Universidade Católica de Brasília. De lá para cá, tem atuado Posterior a isso tenho atuado na entidade em Grupos de Pesquisa (GPs), seminários, debates e congressos.
Abaixo, confira a entrevista na íntegra:
JORNAL INTERCOM: Como você avalia o desenvolvimento do campo das Ciências da Comunicação em sua região? E como a Intercom tem contribuído para esse desenvolvimento?
RICHARD SANTOS: A trajetória das Ciências da Comunicação na América Latina, especialmente no Brasil, tem sido marcada por profundas disputas e desafios estruturais, como aponto no meu mais novo livro “Comunicação em Disputa: A Luta Pelo Imaginário da América Latina na Era Trump”, a ser lançado no início do segundo semestre de 2025. E que conta ainda com o Prefácio do Deputado Orlando Silva, Relator do PL das Fake News. A obra evidencia como a comunicação se tornou o epicentro das disputas políticas contemporâneas, especialmente com a ascensão de lideranças ultraconservadoras como Trump e Bolsonaro, que mobilizaram redes sociais para manipular narrativas e enfraquecer instituições democráticas.
No contexto regional, o campo das Ciências da Comunicação enfrenta o desafio de consolidar uma perspectiva crítica que enfrente as dinâmicas hegemônicas impostas pelas big techs e pelas narrativas coloniais estadunidenses. A Intercom tem desempenhado um papel relevante nesse processo ao promover espaços de reflexão, debate e produção científica voltados para a crítica das narrativas dominantes e para a valorização das vozes periféricas e marginalizadas.
Por meio de seus congressos e publicações, a Intercom fortalece uma produção acadêmica plural e crítica, que busca problematizar as relações entre mídia, poder e sociedade, ao mesmo tempo em que incentiva pesquisas voltadas para a comunicação comunitária e a resistência cultural. Esse esforço contribui para a formação de pesquisadores(as) e profissionais comprometidos com uma comunicação pública emancipadora, como proponho em meu livro.
É preciso reconhecer que ao longo do processo de consolidação das Ciências da Comunicação na América Latina, a Intercom tem sido uma das principais entidades a fomentar o debate acadêmico sobre o papel da mídia na manutenção de desigualdades e no enfrentamento de narrativas coloniais. Sua atuação é fundamental para ampliar o alcance de perspectivas críticas que rompam com a hegemonia midiática global e promovam uma comunicação verdadeiramente democrática.
Além disso, penso que minha iniciativa em propor a criação do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), primeiro curso bacharelado no Sul e Extremo Sul da Bahia, melhor dizendo fora da região metropolitana da capital, está alinhada com os objetivos de resistência e transformação necessárias para uma comunicação que forme profissionais responsáveis e que atuem para a emancipação cidadã. É preciso que eu diga que o curso se destaca por propor uma formação comprometida com as realidades locais e com a valorização das narrativas periféricas e indígenas, rompendo com as tradicionais barragens de exclusão que caracterizam o ensino superior brasileiro, especialmente no campo da comunicação. E tem sido tocado atualmente por profissionais doutores comprometidos, tanto como eu, com a transformação social e na luta por uma educação pública de qualidade.
JORNAL INTERCOM: Como espera contribuir para o projeto da diretoria regional? Pode adiantar algum anseio ou desejo para essa etapa?
RICHARD SANTOS: Na Intercom, meu objetivo é contribuir com uma perspectiva crítica e engajada, ampliando a pluralidade e fortalecendo o alcance social e a incidência étnico-racial da entidade. Acredito que é fundamental repensar as estruturas que, ao longo da história, consolidaram um espaço científico predominantemente marcado por lógicas eurocêntricas e brancas. Reconheço que, assim como em outras sociedades científicas, a Intercom reflete uma construção histórica em que classe e raça se conectam de modo a subalternizar e subjugar a Maioria Minorizada, perpetuando desigualdades e silenciando vozes que deveriam ser centrais no debate acadêmico e social.
Diante desse contexto, minha atuação busca romper com essa lógica excludente, promovendo uma democracia de alta densidade dentro da instituição. Isso significa cultivar práticas de gestão e participação que vão além da inclusão simbólica, criando espaços efetivos de escuta e de ação propositiva, onde diferentes perspectivas sejam valorizadas e tomadas como centrais para a transformação institucional. Ouvir e escutar não são apenas gestos protocolares, mas pilares para uma atuação comprometida com a justiça social e epistêmica, garantindo que a Intercom se torne um espaço mais diverso, plural e socialmente relevante.
JORNAL INTERCOM: Como imagina que sua gestão irá contribuir para ampliar o desenvolvimento do campo da Comunicação em sua região?
RICHARD SANTOS: Como diretor da Região Nordeste na Intercom, minha gestão também será pautada por iniciativas que visam fortalecer e expandir o campo da Comunicação na região. Reconheço que o mercado de comunicação está em constante transformação, impulsionado pelas novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), o que demanda uma formação acadêmica alinhada a essas mudanças.
Nesse contexto, é fundamental promover a integração entre as instituições de ensino superior do Nordeste, incentivando a criação de cursos que atendam às demandas emergentes do mercado, como Jornalismo Digital, Comunicação Organizacional e Mídias Sociais. Além disso, é essencial fomentar a pesquisa aplicada em comunicação, especialmente em temas como inovação e jornalismo digital, áreas que têm se destacado na produção acadêmica regional.
Uma das propostas centrais da minha gestão é a realização de um Congresso Nacional da Intercom no Campus Sosígenes Costa (CSC), em Porto Seguro. O CSC, onde temos o curso Bacharelado em Jornalismo. A realização do congresso em Porto Seguro não apenas valorizará a região, mas também proporcionará uma oportunidade única para estudantes e profissionais locais interagirem com pesquisadores renomados de todo o país, promovendo o intercâmbio de conhecimentos e experiências.
Além disso, pretendo estabelecer parcerias com programas de pós-graduação em Comunicação de destaque na região. Essas colaborações visam promover atividades conjuntas, como seminários, workshops e projetos de pesquisa, que contribuam para o fortalecimento da produção científica e para a formação de recursos humanos qualificados na área de Comunicação no Nordeste. Por fim, é importante destacar a necessidade de incentivar a participação ativa de estudantes e profissionais de comunicação em eventos científicos e associações da área, como a Intercom. Essa participação é fundamental para a construção de uma comunidade acadêmica vibrante e engajada, capaz de enfrentar os desafios contemporâneos da comunicação e contribuir para o desenvolvimento social e cultural da região.
JORNAL INTERCOM: Caso queira contribuir com mais uma resposta, ou algo que deseje informar.
RICHARD SANTOS: Enquanto pesquisador e docente vinculado à Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e participante ativo da Intercom, minha trajetória acadêmica se estrutura fortemente no campo interdisciplinar. Essa perspectiva epistemológica não se dá apenas por um gesto metodológico ou um arranjo de conveniência, mas como uma postura crítica frente à complexidade contemporânea do mundo social, que exige abordagens multifacetadas e integradoras.
A experiência de coordenar o Grupo de Pesquisa Pensamento Negro Contemporâneo, bem como o Programa de Extensão Jornada do Novembro Negro, evidencia a necessidade de diálogos constantes entre campos do saber distintos, promovendo articulações que transcendem a lógica disciplinar rígida. No contexto da Intercom, que historicamente tem se posicionado como um espaço de articulação interdisciplinar, vejo como fundamental que a associação reforce e explicite ainda mais esse caráter integrador. A epistemologia comunicacional não deve se restringir ao enclausuramento disciplinar, pois tal postura desconsidera a natureza híbrida e dinâmica dos fenômenos sociais e midiáticos que pretendemos compreender e transformar. Acredito que a interdisciplinaridade da Intercom deveria ser mais explícita e promovida como princípio norteador, dada a pluralidade de abordagens teórico-metodológicas necessárias para o enfrentamento dos desafios contemporâneos.
Portanto, reafirmo minha defesa de uma perspectiva interdisciplinar, tanto no contexto da Intercom quanto em outras arenas acadêmicas e sociais, pois somente assim poderemos promover interpretações abrangentes e responsivas às demandas contemporâneas.
Se você ainda não conhece toda a diretoria da Intercom, aproveite para saber mais sobre os(as) membros(as) que integram nossa atual gestão na entidade, clicando aqui.

