09 de outubro de 2025

O estudo ‘Deepfakes: uma discussão sobre temporalidade e acontecimento nas eleições brasileiras de 2022’ foi o vencedor do tradicional Prêmio Intercom de Pesquisa em Comunicação, promovido pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) em 2025. A estudante Ruana Mirele dos Santos Pereira Costa, do curso de Jornalismo em multimeios – Universidade do Estado da Bahia (Uneb – Juazeiro) foi a vencedora na categoria graduação, com seu estudo sendo orientado pelo professor Cecílio Ricardo de Carvalho Bastos.

Ruana recebeu o Prêmio durante a cerimônia oficial que aconteceu em Vitória, Espírito Santo, durante o Congresso Nacional de 2025. Como vencedora na categoria Graduação, foi convidada a publicar artigo extraído da monografia na Iniciacom – Revista Brasileira de Iniciação Científica em Comunicação.

Promovido pela Intercom desde 2022, o Prêmio Intercom de Pesquisa em Comunicação tem como propósito valorizar a produção científica na área da Comunicação no Brasil, a partir do reconhecimento da qualidade das pesquisas produzidas, individualmente, pelos cientistas do país.

Neste ano, a iniciativa contou com 94 inscrições nas categorias: Doutorado (20), Mestrado Acadêmico (32), Mestrado Profissional (2) e Graduação (40). As pesquisas foram avaliadas seguindo os critérios: contribuição para a área, relevância e atualidade do tema, abordagem teórico-metodológica e qualidade do texto. Primando pela pluralidade, o júri foi composto por profissionais das cinco regiões do país, contemplando a diversidade de gênero e raça/etnia.

Abaixo, confira a entrevista completa com Ruana sobre sua pesquisa vencedora da categoria graduação:

Jornal Intercom: Sua pesquisa Deepfakes: uma discussão sobre temporalidade e acontecimento nas eleições brasileiras de 2022 foi a vencedora do Prêmio Intercom 2025. Poderia dar um panorama geral do que consiste essa pesquisa?

Ruana: A minha pesquisa analisa como as deepfakes — vídeos, áudios e imagens produzidos com algoritmos de aprendizado de máquina — podem influenciar a percepção do tempo e dos acontecimentos durante o processo eleitoral. O estudo parte da circulação de três deepfakes nas eleições presidenciais de 2022, investigando como esse tipo de conteúdo pode distorcer a forma como o público interpreta fatos políticos no circuito das temporalidades.

Uma deepfake pode, por exemplo, fazer parecer que um candidato disse algo que nunca afirmou, prejudicando sua reputação no presente. Mesmo que o conteúdo seja desmentido depois, a correção dificilmente alcança a mesma repercussão, o que permite que o vídeo se misture rapidamente ao debate público e influencie percepções e memórias coletivas no passado e futuro sobre as figuras envolvidas. Assim, o objetivo não é tratar as deepfakes como uma ameaça isolada, mas refletir criticamente sobre seus usos e efeitos no contexto democrático e informacional contemporâneo.

Jornal Intercom: O que o levou a pesquisar esse tema e como relaciona esse tema com a sua graduação?

Ruana: Desde o início da graduação, eu já tinha o interesse em investigar a relação entre tecnologia e jornalismo. As experiências em projetos de extensão e pesquisa fortaleceram esse caminho, especialmente quando comecei a me dedicar a alguns temas como personalização de conteúdo e o cenário eleitoral.

Mas a escolha pela pesquisa em deepfakes surgiu após assistir a uma apresentação de um professor da UFMG sobre o tema, o que me motivou a analisá-las no contexto das eleições presidenciais de 2022. A partir daí, desenvolvi a pesquisa com a orientação do professor Cecílio Bastos e com a colaboração do professor Elias Bitencourt e do DATALAB, responsáveis por contribuir na análise das amostras estudadas. O trabalho se consolidou como uma extensão natural da minha formação em Comunicação Social – Jornalismo, unindo teoria, método e prática para compreender como as tecnologias digitais afetam o campo jornalístico e o debate público.

Jornal Intercom: Qual a importância da academia e da Comunicação refletir sobre essa temática?

Ruana: Acredito que vivemos um momento em que a democracia exige uma atenção cada vez mais renovada e crítica. Nesse contexto, a academia e o campo da Comunicação têm um papel fundamental: o de investigar, problematizar e dar visibilidade a fenômenos que, embora muitas vezes sutis ou invisíveis, podem fragilizar o debate público e desequilibrar o cenário eleitoral.

Refletir sobre essa tecnologia é, antes de tudo, pensar em como as informações circulam e influenciam a confiança nas instituições, nos processos eleitorais e nos próprios atores políticos.

Como aponta o analista político Giuliano da Empoli, ao discutir os chamados “engenheiros do caos”, existem estratégias capazes de catalisar a atenção pública e saturar o espaço midiático — e as deepfakes podem se tornar mais uma dessas ferramentas de influência e disputa simbólica.

Jornal Intercom: Como você avalia iniciativas como essa do prêmio da Intercom?

Ruana: Acredito que iniciativas como o Prêmio Intercom de Pesquisa em Comunicação são fundamentais para o fortalecimento da pesquisa em Jornalismo. Elas representam um reconhecimento importante ao trabalho de jovens cientistas e pesquisadores, valorizando o esforço acadêmico e estimulando novas investigações dentro da área.

Além disso, esse tipo de premiação amplia a visibilidade das pesquisas, permitindo que temas relevantes ultrapassem os muros da universidade e alcancem diferentes públicos e instituições. É um incentivo não apenas ao pesquisador individualmente, mas também ao avanço coletivo da ciência da Comunicação, que se enriquece com o diálogo, a troca de experiências e o reconhecimento mútuo.

Confira aqui a lista com todos(as) os(as) vencedores(as) do Prêmio Intercom de Pesquisa em Comunicação 2025.

Assim como Ruana, outros pesquisadores(as) brasileiros(as) foram premiados(as) e/ou homenageados durante a programação do Intercom Nacional 2025. Nas próximas edições do Jornal da Intercom, você acompanhará uma série de entrevistas com cada um(a) deles(as) sobre suas pesquisas e jornadas como pesquisadores(as).

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