13 de novembro de 2025

O Prêmio Luiz Beltrão, organizado pela Intercom anualmente, em 2025 realizou a premiação dos vencedores durante o Congresso Nacional. Neste ano, Ana Regina Barros Rêgo Leal foi a vencedora na categoria Maturidade acadêmica. O certificado desta categoria é concedido ao conjunto da obra de um(a) pesquisador(a) sênior que tenha obtido reconhecimento nacional e/ou internacional.

Ana é jornalista pela Universidade Federal do Piauí (1996), especialista em Ciências Humanas pela PUC-RS, mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998), doutora em Processos Comunicacionais pela UMESP (2010) e com pós-doutorado em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ (2020). Também possui pós-doutorado em História Contemporânea com foco em comunicação, desinformação e IA realizado na Universidad de Sevilla (2025).

Foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPI gestão (2013-2015) e (2015/2017) e atualmente é vice-coordenadora do Mestrado em Comunicação (2022-2025). Coordena o Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação e o Projeto Memória do Jornalismo Piauiense. Criou e Coordenou a RNCD-BRASIL- Rede Nacional de Combate à Desinformação (2020- 2024). Participa da Rede Nacional de Grupos de Pesquisa em Historicidade dos Processos Comunicacionais e da RELAHM-Rede Latinoamericana de História das Mídias. Em 2023 foi contemplada com o Prêmio Luiz Beltrão Categoria Grupo Inovador pela iniciativa da RNCD-Brasil Rede Nacional de Combate à desinformação.

Abaixo, confira a entrevista especial feita pelo Jornal da Intercom com a pesquisadora premiada.

Jornal Intercom: Quais você acredita que foram os principais pontos que te levaram a conquistar esse prêmio do Luiz Beltrão de maturidade acadêmica?

Ana: Acredito que é um prêmio de coroação de carreira. Eu nem esperava receber isso agora. Mas penso que, de um lado, as contribuições científicas a partir das investigações, das pesquisas que fiz como bolsista do CNPQ nos últimos anos e em algumas áreas como a história, historiografia, historicidade e, nos últimos anos, com abordagem muito focada no fenômeno da desinformação. Por outro lado, acho que agregado às contribuições científicas vêm as contribuições sociais. O trabalho em rede, eu presidia o Socicom e terminei criando a Rede Nacional de Combate à Desinformação a partir do pós-doutorado. E desde então, nasceram muitas pesquisas em rede, em nível nacional e internacional, acredito que isso tenha contribuído.

Jornal Intercom: Você já havia recebido esse prêmio em outras edições, em categorias diferentes. Qual o significado de receber, desta vez, na categoria de Maturidade Acadêmica? Como recebeu a notícia de que tinha sido indicada e depois a vencedora do prêmio?

Ana: Eu não soube que tinha sido indicada. Foi realmente uma surpresa porque eu não sabia que eu tinha sido indicada. Em 2016, eu ganhei o prêmio Liderança Emergente. Em 2018, a ALCAR ganhou, quando eu era presidente. Em 2023, recebi novamente pela Rede Nacional de Combate à Desinformação, como um grupo inovador. E, agora, maturidade acadêmica. Não sei se a minha trajetória já estava à altura, mas me senti extremamente honrada porque esse prêmio tem, em meus antecessores, grandes nomes, pessoas que admiro bastante. Então, me senti muito honrada em compor essa galeria com tanta gente de peso.

Jornal Intercom: Como você vê que a Intercom e outras entidades têm trabalhado em prol da comunicação para esse trabalho em rede? Como vê as possibilidades de ampliação da pesquisa em comunicação em rede hoje no Brasil?

Ana: Acho que o papel da Intercom é primordial na formação do comunicador em qualquer uma das nossas subáreas. O meu primeiro contato com pesquisa, ainda na graduação, foi exatamente com a Intercom. E é pelos laços, das relações que a gente construiu nos GTs da Intercom e depois nas outras instituições, é que eu vejo muita pujança na consolidação do campo comunicacional no Brasil como bem profetizou e trabalhou o Marques de Melo, que foi meu professor. Devemos muito a ele por essa construção do campo, por ter criado, pavimentado as estratégias para que o campo realmente viesse a crescer como cresceu, de uma forma tão pujante. Na ALCAR, instituição que estou desde o momento que foi criada, também prezamos por essa consolidação do campo.

A própria Socicom também articula associações em prol de uma política científica para consolidar o campo da Comunicação. Então, eu vejo que são as redes, nesse momento, que nos fazem crescer. Acho que nessa esteira, tentei criar uma rede para enfrentar um fenômeno bastante complexo na nossa contemporaneidade. Repito, são exatamente, ah, as redes que nos possibilitam essas trocas. Trabalhamos com redes nacionais e internacionais nessa perspectiva de agregar valor ao campo e de uma forma que possamos intervir na no tecido social.

Jornal Intercom: Como você enxerga essa inserção maior das universidades nordestinas nesses espaços, sendo reconhecidas e recebendo esse importante reconhecimento público, do trabalho e do desenvolvimento dessas novas redes?

Ana: Reflete um olhar sensível da própria Intercom. Não atuamos apenas atuamos no Nordeste, mas somos nordestinos. É muito importante que possamos, cada um de nós, quer estejamos no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul ou no Sudeste, produzir conhecimento a partir do nosso lugar. E não necessariamente ser obrigado a praticar um êxodo em prol de uma formação ou de uma atuação.  Nós saímos, fazemos intercâmbio, fazemos trocas e retornamos. Precisamos estar em cada uma das regiões brasileiras exatamente para que a gente possa contribuir com o nosso entorno e transformar esse nosso entorno. Sabemos que o Brasil inteiro é uma potência muito grande. Eu vejo com muito carinho, agradecimento e sensibilidade da Intercom.

Jornal Intercom: Você também fará parte da comissão avaliadora de candidaturas do Prêmio Luiz Beltrão, a partir de agora. Como você vai encarar esse desafio?

Ana: Como uma pesquisadora fora do eixo principal de produção do conhecimento no Brasil, o meu olhar sempre foi e sempre será pela diversidade e pela valorização da diversidade. Não significa que a gente precise privilegiar uns em detrimento de outros, mas que a gente possa ter esse olhar cuidadoso para aquilo que está no extremo norte, no extremo sul, em todas as regiões. Acho que acolher bem todos aqueles que se candidatarem. Sei que, normalmente, quem é indicado é porque realmente tem uma trajetória, tem uma potência para fazer a diferença no campo. Espero ter um olhar cuidadoso e justo para a diversidade.

Jornal Intercom: Um dos seus trabalhos de destaque foi da Rede de Combate à Desinformação. Uma atuação muito forte para mostrar o quanto a desinformação é complexa no mundo em que vivemos. Suas pesquisas seguem nessa linha agora? O que podemos esperar dos seus estudos e pesquisas?

Ana: Minhas pesquisas seguem nesta linha, sempre atravessadas por um viés das temporalidades, da historicidade, da própria história. Trabalhamos com desinformação na contemporaneidade, mas com uma relação com o passado. Mesmo com a questão da inteligência artificial, com a desinformação, temos um campo minado, interseccionado. E, então, visualizando uma potencialidade para a mutação das epistemologias em várias áreas da ciência.

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