09 de outubro de 2025

Ex-presidente da Intercom (1997-199), José Salvador Faro foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Ao longo de muitos anos, dedicou seu tempo para a entidade e também para pesquisas na área, principalmente relacionando a História (sua área de formação), com os processos e práticas comunicacionais.

Aos 77 anos, Faro faleceu no dia 29 de setembro, mas deixou um legado lembrado por amigos e familiares. Conforme conta Maria Immacolata Vassallo de Lopes, ex-presidente da Intercom, o professor e pesquisador era presente no cotidiano da entidade, além da presença marcante na Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA), com presença marcante onde passava.

“Foi identificação imediata: trabalho, valores, afetuosidade. Ele me sucedeu na presidência da Intercom, mais uma conexão. Como intelectual, suas pesquisas sobre história do jornalismo e jornalismo cultural tornaram-se referências no campo da Comunicação. Sua passagem prematura é uma perda insubstituível. Ficam os trabalhos e a figura que a todos marcava”.

A presença do ex-presidente na academia também foi lembrada por Sebastião Carlos de Morais Squirra, que foi vice-presidente da Intercom durante o mandato de Faro. “Tínhamos uma aproximação muito grande. Ele foi meu braço direito na condução da pós-graduação e na Faculdade, e eu, seu braço direito na condução da Intercom”.

Em seu mandato como presidente da Intercom, Faro ajudou no processo de criação do Prêmio Luiz Beltrão, para prestigiar as lideranças do campo, conferindo-lhe mais maturidade, bem como organizou grandes congressos nacionais.

Nos eventos e na universidade, outra característica do professor era muito presente: sua proximidade com estudantes de graduação. Como conta Squirra, seu diferencial estava na paciência e cuidado com quem estava ingressando na área.

“Era uma relação muito fraterna, muito parecida à ideia de um pai. Por isso ele era muito bem quisto pelos estudantes, com uma relação aberta e de proximidade. Não parecia aquele professor sobrecarregado e fechado. No refeitório, enquanto almoçamos, sempre os alunos vinham até ele”, completa.

Como sua formação era em história, Faro era muito ligado aos aspectos que permeavam a realidade nacional, bem como com a presença do jornalismo nos fatos da política brasileira. o professor Antonio de Andrade, amigo de mais de quatro décadas, relembra um episódio marcante, que foi a invasão do campus da PUC, liderada pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em que mais de 800 alunos, professores e funcionários foram presos, além de o prédio da instituição ter sido vandalizada pelos militares.

“Era um episódio marcante, e o professor Faro tinha um interesse muito grande em maiores detalhes sobre isso. Ele colocou na cabeça que tínhamos na Cátedra um exemplar do jornal O São Paulo, que foi editado uma semana após a invasão. Segundo o Faro, ele não conseguia lembrar da manchete, que era muito interessante. Todos os dias ele abria a porta com aquele tom estridente dele e falava: – Como que é, encontraram o jornal?”, explica Andrade.

Cabe destacar nesta história que Faro foi um dos envolvidos na instalação da Cátedra Unesco no Brasil e que alunos de graduação atuavam no espaço fazendo pesquisas em um acervo de conteúdos jornalísticos. Retomando a história, o professor Andrade destaca que um dia o jornal foi finalmente encontrado.

“Para emoção do Faro, apareceu então o jornal com aquela manchete que ele tanto gostaria de relembrar e que era, de fato, muito criativo, muito genial. A manchete era assim:  Entraram na PUC sem prestar vestibular. Eu lembro que o Faro ficou extremamente emocionado com isso, e que mostrava muito bem a forma genial como ele tratava dessas questões e da convivência dele com os colegas, com os professores, com os alunos”.

Para além das histórias sobre a própria história do Brasil e do Jornalismo, Andrade conta que Faro foi um grande amigo e que, certamente, deixará muita saudade. “O Faro foi realmente um amigo de primeiríssima qualidade. Contribuiu muito para a preservação, inclusive, da história, da memória e da imprensa brasileira”, conclui.

Biografia

José Salvador Faro nasceu em 1947, em São Paulo. Sua formação não era comunicação, e sim História (USP), mas desde seus primeiros anos de curso se interessou pela comunicação. Em 1975, ao mesmo tempo em que ensinava História no ensino médio, começou a lecionar em um curso de Comunicação na Cásper Líbero, na disciplina “Problemas Sociais e Econômicos Contemporâneos”.

Em 1992, fez seu mestrado na Universidade Metodista de São Paulo, onde apresentou uma dissertação sobre os 15 primeiros anos da Intercom, intitulada: “A universidade fora de si: a Intercom e a organização dos Estudos de Comunicação no Brasil”. O conteúdo da dissertação virou um livro lançado com o selo da Intercom, que está disponível no site da Portcom.

Alguns anos mais tarde, em 1996, defendeu seu doutorado na Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP), sobre a Revista Realidade. Como citado, foi presidente da Intercom e um dos 12 fundadores da entidade.

Atuou como consultor da Capes, do CNPq e da Fapesp, bem como docente de jornalismo na PUC e na Universidade Metodista, ambas em São Paulo.

Ao longo de sua trajetória, escreveu artigos para veículos jornalísticos, como o jornal Opinião, trabalhou na agência de notícias italiana Ansa, fez parte da diretoria da SBPJor (Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo), publicou livros e artigos e organizou diversos eventos na área da comunicação.

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