16 de outubro de 2025
O Grupo de Pesquisa Convergência e Jornalismo (Conjor) foi o vencedor da categoria Grupo Inovador do Prêmio Luiz Beltrão de Ciências de Comunicação 2025, promovido anualmente pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). O troféu é concedido a quem produz trabalhos relevantes na área das ciências da Comunicação e contribui para consolidar o prestígio das comunidades acadêmica e profissional brasileiras. Além disso, homenageia e reconhece o pioneiro da pesquisa científica sobre fenômenos comunicacionais e fundador do Instituto de Ciências da Informação, Luiz Beltrão.
O título de Grupo Inovador que integra o Prêmio reconhece e contempla nesta categoria núcleos de pesquisa que se destaquem pela capacidade de inovar nos planos teóricos, metodológicos, tecnológicos ou pragmáticos durante suas pesquisas. O Conjor, premiado neste ano, reúne atualmente 64 pesquisadores(as) de 19 universidades brasileiras, com atuação em rede que articula a formação em graduação e pós-graduação. É um espaço de produção de conhecimento, de formação de pesquisadores(as), de desenvolvimento de trabalho em rede mas, sobretudo, de acolhimento e compartilhamento.
Fundado em 2010 na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e atualmente vinculado à Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), o ConJor completa 15 anos em 2025. Sua atuação originou novos coletivos de pesquisa como o Grupo de Estudos Comunicação e Epistemologias Feministas (Gecef) e o Laboratório de Humanidades Digitais da Ufop.
Assim, para conhecer mais profundamente como o Conjor atua na Comunicação e inova suas formas de trabalho com a pesquisa científica, o Jornal da Intercom conversou com Débora Lopez, uma das líderes do grupo. Confira a entrevista especial abaixo:
Jornal Intercom: O Conjor pesquisa novas tecnologias e ferramentas, mas sempre aliados aos “antigos” meios, olhando para o consumo e a produção. Como atuam na divulgação científica e novas pesquisas na área?
Conjor: O Conjor começou como um grupo de pesquisa de jornalismo e convergência, como o nome dele diz. Hoje, esse escopo está muito ampliado. Temos olhado para os fenômenos emergentes das relações sociais a partir de perspectivas múltiplas, em uma das linhas muito centrada em práticas profissionais, gênero e interseccionalidades, e na outra, muito ancorada em inovações no fazer científico, especificamente a partir das humanidades digitais. Assim, temos uma diversidade de pesquisas que são desenvolvidas no grupo que não olham somente para tecnologias e ferramentas, mas para o contexto da Comunicação como uma só, em termos de divulgação científica. Trabalhamos com divulgação científica dos nossos projetos a partir de um podcast chamado ‘Som e Ciência’ e a partir de uma série especial que tínhamos de divulgação científica em Comunicação, chamada ‘Que trem é esse?’ em que discutimos conceitos da Comunicação. Também trabalhamos com projetos que vão à escola pública, temos um projeto em parceria com o programa de pós-graduação em História, aqui em Ouro Preto e Mariana, em que trabalhamos com práticas de Comunicação para o ensino da História a partir de conceitos como marketing de conteúdo e a própria divulgação científica, fazemos eventos voltados à comunidade. Isso porque reconhecemos a importância da divulgação científica, do diálogo com a comunidade em geral e da comunicação científica com os nossos pares. Buscamos olhar para os nossos fenômenos, olhar para as pesquisas que desenvolvemos a partir de uma perspectiva contextualizada. Fugimos dessa fetichização da tecnologia pela tecnologia, mas buscamos entender como a apropriação da tecnologia no cotidiano, tanto nas práticas comunicacionais, quanto nas práticas educativas ou práticas socioculturais, como elas se inscrevem, como mudam no decorrer do tempo. Essa lógica da emergência dos fenômenos comunicacionais é muito importante.
Jornal Intercom: Como avaliam os desafios da comunicação no tempo atual?
Conjor: Um dos grandes desafios que percebemos que existe na Comunicação atual é justamente essa percepção das apropriações possíveis da Comunicação e de lidar com dinâmicas de circulação de informação que, às vezes, fogem a nossa compreensão cotidiana. Buscando um exemplo mais palpável: em 2026, vamos viver um processo político-eleitoral que já se apresenta como muito mais complexo do que os anteriores porque vamos lidar com outras dinâmicas de circulação e produção de informação. Vamos lidar com deep fake, com inteligência artificial (IA), com modalidades de Comunicação que são esses fenômenos, essas práticas que emergem do dia a dia, que emergem das tecnologias e das apropriações das tecnologias e que vão desafiar muito a nossa própria compreensão da Comunicação. Para nós, no endereçamento que fazemos, um grande desafio é esse: entender como essas mudanças se instauram, como elas impactam o nosso dia a dia. E outro desafio é conseguir entender como a Comunicação se relaciona com práticas socioculturais ancoradas em alguns debates sobre colonialidade, decolonialidade, gênero, raça, capacitismo, questões de deficiência, interseccionalidade. Essas questões do mundo e sua relação com a Comunicação estão entre os desafios principais que temos identificado.
Jornal Intercom: Em uma retrospectiva e avaliação, quais atuações você avalia como basilares para que a trajetória do Conjor recebesse o Prêmio deste ano?
Conjor: Um dos pontos principais, olhando para a trajetória do Conjor nesses 15 anos e que nos levou até o Luiz Beltrão, é principalmente a nossa dedicação em formar pesquisadores, porque a partir desse processo de formação e esse cuidado com os sujeitos na prática da pesquisa em Comunicação é que conseguimos, aos poucos, contribuir para uma transformação do mundo. Temos uma prática de acolhimento que é receber os(as) pesquisadores(as) no momento formativo em que eles(as) se interessam pelo grupo e pelas pautas com as quais o grupo trabalha e manter a presença desses(as) pesquisadores(as) pelo tempo em que se sintam parte do grupo. Temos pessoas que estão com o grupo há 15 anos e temos pessoas que estão há um mês e cada uma delas traz algo de próprio para o Conjor. Buscamos trabalhar por um lado com reconhecimento das experiências e dos aportes, das contribuições que cada pesquisador(a), independente do seu momento de formação, pode trazer para o grupo em termos de debate, de construção de projetos, de desenvolvimento das nossas perspectivas de pesquisa e, também, buscamos dar oportunidades para que essas pessoas possam cada vez mais se capacitar, amadurecer academicamente, amadurecer nas suas relações e ir ocupando o seu lugar no mundo acadêmico. Construímos uma capilaridade do grupo e do que construímos como conhecimento no grupo a partir desse reconhecimento de cada um dos indivíduos e de como eles podem contribuir para o campo da Comunicação e para a formação de novas gerações de pesquisadores(as). Esse caráter coletivo e investimento na formação de pesquisadores(as) são o ponto mais forte do nosso grupo.
Jornal Intercom: Qual foi o sentimento ao saber da indicação e, posteriormente, da premiação?
Conjor: Receber o Prêmio Luiz Beltrão despertou sentimentos muito bons. Estamos em um ano muito especial para o Conjor porque completamos em 2025 os 15 anos de criação e somos um grupo de pesquisa que preza pela manutenção, pela formação continuada, pela criação de redes. Então temos integrantes que começaram com a gente na graduação, há 15 anos, como pesquisadores(as) de iniciação científica e que, hoje, são professores(as) de universidade pública e seguem no Conjor trazendo novos pesquisadores(as). Então, para nós, a premiação foi um sentimento de conquista compartilhada. É o reconhecimento de um trabalho coletivo, de uma maturidade do grupo. Esse foi o principal ponto para nós: entender que não é uma conquista de uma pessoa ou de outra, que não é minha que estou à frente do grupo com a professora Natália, não é da professora Natália ou do professor Marcelo que esteve à frente do grupo comigo nesses primeiros 15 anos do Conjor, mas sim, de todas as pessoas que já passaram por aqui. Hoje, nós somos grandes, somos pesquisadores de 19 universidades. É realmente um esforço, uma conquista coletiva, um sentimento de alegria que só cresceu.
Jornal Intercom: Como a Instituição avalia a promoção de iniciativas como o Luiz Beltrão?
Conjor: Vemos o Luiz Beltrão como uma iniciativa muito positiva de reconhecimento da qualidade, da dedicação, da articulação, das contribuições da pesquisa em Comunicação em diversos âmbitos, em grupos, em instituições, em pesquisadores(as) que estão iniciando sua carreira despontando como lideranças ou em pesquisadores(as) já consolidados que revelam essa maturidade no fazer científico e trazem momentos, possibilidades de contribuição diferentes para a área. Não é apenas uma questão de reconhecer um desenvolvimento na área, mas reconhecer também contribuições de quem está começando e dos grupos que se articulam coletivamente, sejam as instituições paradigmáticas, sejam os grupos inovadores. Então, o Prêmio Luiz Beltrão, além, claro, de carregar todo o valor do próprio Luiz Beltrão e trazer isso como um grande orgulho para quem recebe o Prêmio, tem como ponto de destaque essa diversidade nas categorias, reconhecendo também, por consequência, a diversidade dos estudos de comunicação no Brasil.
CERIMÔNIA DE PREMIAÇÃO
A cerimônia de entrega do Prêmio Luiz Beltrão ocorreu em Vitória, Espírito Santo, durante o Congresso Nacional de 2025, em setembro. Além do Conjor, outros grupos e/ou pesquisadores(as) foram premiados.
Confira aqui os(as) vencedores(as) do Prêmio.
Continue acompanhando no Jornal da Intercom a série de entrevistas com os(as) premiados(as).

