25 de setembro de 2025
Tradicionalmente, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) promove uma homenagem anual a um(a) pesquisador(a) sênior de referência na região em que ocorre o congresso nacional da entidade. Trata-se do Troféu José Marques de Melo, que neste ano foi recebido pelo professor José Edgard Rebouças (UFES).
Edgard tem formação em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (1996-1990), mestrado em Sciences de l’information et de la Communication pela Université Grenoble 3 (1992-1994), doutorado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, com estágio de pesquisa na Université du Québec à Montréal (1999-2003), e estágios pós-doutorais na Universidade Federal de Pernambuco (2005-2006) e Université du Québec à Montréal (2021-2022). É Professor Titular da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e coordenador-fundador do núcleo de pesquisa e ação Observatório da Mídia: direitos humanos, políticas, sistemas e transparência. Trabalhou em várias funções em redações de jornais e TVs (1987-1998) e tem experiência na área de pesquisa em Comunicação, com ênfase em Indústrias Culturais e Midiáticas e em Políticas de Comunicações, atuando principalmente nos seguintes temas: regulação/regulamentação, direitos humanos, televisão, jornalismo, publicidade, educomunicação e observatórios de mídia. Já foi conselheiro fiscal (2002-2005/2017-2020) e diretor de Relações Internacionais da Intercom (2008-2011 e 2020-2023).
Abaixo, confira a entrevista completa com o professor homenageado pela Intercom em 2025:
Jornal Intercom: O Prêmio é um grande reconhecimento para os pesquisadores da região onde o congresso é realizado. O que que significou para você receber esse Prêmio em Vitória? Qual é a importância do Prêmio para você e para a universidade onde você atua?
Edgard Rebouças: Tem uma importância enorme principalmente pelo respeito que eu tenho pelo professor Marques de Melo e pelo fato de eu tê-lo conhecido pessoalmente exatamente aqui em Vitória, quando sediamos o Congresso da Intercom em 1993. Eu estava recém chegado do mestrado e me deparei com muitas referências que eu tinha, andando pelo campus onde eu tinha me formado em jornalismo. E o José Marques de Melo é uma delas. Foi muito importante, não apenas pela honra de ver minha biografia pessoalmente, mas pela pela relação que eu passei a ter com ele, a partir daquele momento. Ele passou a apostar em mim de alguma forma e foi um grande incentivador da minha trajetória acadêmica. Então, eu devo muito ao professor José Marques de Melo. Felizmente, tive uma proximidade de amizade com ele, tive muitos diálogos, troquei muitas ideias, ele me ouvia, me dava conselhos. Foi muito honrado para mim receber, na minha cidade, tantos anos depois, o Prêmio que leva o nome dessa grande referência para mim, e para a maioria dos(as) pesquisadores(as) no Brasil.
Jornal Intercom: E como foi, depois de tanto tempo, você dividir sua terra natal com tantos congressistas e agora ser uma dessas pessoas que é uma referência para muitos estudantes?
Edgard Rebouças: O fato do Congresso ter sido na Faesa me deu um orgulho muito grande porque eu fui professor da primeira turma da instituição há 30 anos, quando o curso foi criado e o Marques de Melo foi um grande incentivador disso.Ele veio à Faesa quando estávamos montando o curso, então, ele tem uma história com essa criação. Fico feliz de ver hoje esse amadurecimento da Faesa de sediar um congresso como o da Intercom. E a instituição tem uma história com a entidade, com o professor José Marques de Melo. Por isso, foi bom ver tudo isso dando certo.
Jornal Intercom: E receber esse Troféu em casa é diferente de qualquer outro reconhecimento, não é?
Edgard Rebouças: Eu não sou tão religioso como minha mãe, minha madrinha ou minha namorada, eu gostaria que eu fosse. Mas tem uma passagem bíblica que eu lembro de forma recorrentemente que fala sobre o filho do carpinteiro que volta na cidade e o pessoal fica olhando assim: “Ah, mas esse é só o filho do carpinteiro”. Então, ninguém é profeta em sua própria terra. Por isso, receber um reconhecimento nacional no meu Estado é muito importante. Mostra que algumas pessoas enxergam que o filho da terra tem uma visibilidade nacional, às vezes até internacional, que localmente não acontece. Foi muito bom receber a homenagem com meus colegas de faculdade, colegas de redação, estando comigo no dia da premiação.
Jornal Intercom: No seu discurso após a homenagem, destacou alguns momentos da sua carreira que considera que foram significativos para você receber esse Prêmio. Você poderia destacar alguns?
Edgard Rebouças: Quando eu fui fazer meu doutorado, foi quase um convite dele, específico. Ele falou: “Você já fez seu mestrado há muito tempo. Não vai fazer o doutorado?” Então fui fazer o doutorado na Metodista e ele me fez um convite para ser professor lá. Talvez esse tenha sido o único convite dele que recusei, que foi mudar para São Paulo e ser professor. Depois, quando fiz o ‘sanduíche’ no Canadá ele me incentivou e ajudou com colegas. Mais tarde, quando fui fazer o pós- doutorado na Universidade Federal de Pernambuco, ele me incentivou dizendo que o Nordeste precisava de pessoas que incentivassem a pesquisa em Comunicação. Anos mais tarde, virei professor concursado lá. Quando voltei para Vitória, em 2009, ele celebrou porque dizia que a cidade precisava que os pesquisadores voltassem pra ela. É a diáspora Capixaba que citei no discurso, quando acontecia o seguinte: o pessoal se formava aqui, fazia o mestrado, doutorado fora e acabava ficando fora em outros estados. Quando falei para o professor Marques que eu estava voltando para Vitória, ele disse que era importante para incentivar o local. Voltei e acabamos conseguindo abrir o mestrado, o doutorado.
Jornal Intercom: Esse é um reconhecimento importante para a universidade também? ter um professor pesquisador da instituição recebendo?
Edgard Rebouças: Entra no capital simbólico para a universidade porque como professor, consigo fazer algo, consigo agregar para a instituição. Aprendi com o José Marques de Melo sobre isso: de agregar pessoas na formação de grupos de pesquisa, incentivar a publicação, incentivar o estudo, incentivar a continuar na carreira. Ter esse Prêmio, com o nome dele, é muito significativo e já que eu vou poder manter essa tradição do que eu já faço aqui na Universidade ,de ser um provocador e incentivador de novos talentos.
Jornal Intercom: Um prêmio como o José Marques de Melo tem esse significado simbólico por ser o nome do professor, mas como você avalia esse reconhecimento de pesquisadores locais, feito pela Intercom?
Edgard Rebouças: É um grande incentivo porque a gente sabe que Brasil afora tem muitos colegas que têm esse papel de serem motivadores no âmbito local e que, muitas vezes, não conseguem um reconhecimento nacional. E o fortalecimento do local, dos cursos, da publicação, da pesquisa, da formação e do profissionalismo, a qualidade da pesquisa e da ação, da prática em Comunicação local é muito importante. Ter prêmios como esse, que valorizem o pesquisador local para além do reconhecimento nacional que esses pesquisadores já têm, é muito importante. Me sinto muito honrado pela lista dos que me antecederam em outros Estados com esse prêmio, são pessoas de altíssimo calibre,como como Nilson Lage, Aníbal Bragança, Adilson Citelli, Othon Jambeiro e Doris Haussen. Pessoas de muita importância em seus estados e que tem reconhecimento nacional, mas que foram peças fundamentais nos seus estados. Ainda bem que a Intercom teve essa ideia e criou a iniciativa do prêmio.
Sobre o Troféu
Já tradicional no ambiente científico nacional, o Troféu José Marques de Melo é promovido desde 2013. Os nomes são selecionados pelo Conselho Curador da Intercom e pelos premiados(as) anteriores na categoria Maturidade Acadêmica, a partir das indicações feitas de forma online pelos(as) associados(as) da entidade.
Confira aqui a lista dos(as) contemplados(as) pela Intercom com o reconhecimento nacional.

