12 de setembro de 2019
“Vocês vão para seus locais de origem levando essa energia do Norte do Brasil, da Amazônia. Não se esqueçam de nós. Voltem quando quiserem, vocês serão sempre muito bem-recebidos. Já estou sentindo falta de vocês. Um beijo.” A despedida emocionada da professora Maria Ataide Malcher (UFPA), coordenadora da Comissão Organizadora local, fechou o 42º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2019) no dia 7 de setembro, após seis dias de intensa programação científica, acadêmica e cultural. Em seguida, foi anunciada a próxima anfitriã do maior congresso de Ciências da Comunicação da América Latina: a Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador (leia mais abaixo).
Realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) entre os dias 2 e 7 de setembro no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA) em Belém, o Intercom 2019 congregou cerca 3 mil pessoas para debater o tema “Fluxos comunicacionais e crise da democracia”.
Na cerimônia de encerramento, o presidente da Intercom, professor Giovandro Ferreira (UFBA), destacou o trabalho da Organização local: “Neste momento extremamente crítico para a universidade, sobretudo para organizar o maior evento de Comunicação do país, nós, da Intercom, somos eternamente gratos à equipe da UFPA e das outras universidades que fazem parte da organização do 42º congresso da Intercom”, afirmou. “O que engrandece o congresso é a participação de estudantes, professores, pesquisadores. Isso é fundamental para o congresso e para a entidade. O meu, o nosso muito obrigado.”
A organização exemplar foi possível graças ao empenho de cerca de 300 voluntários da UFPA e de instituições parceiras. Ao todo, foram realizados 13 eventos, entre colóquios, fóruns e conferências, além de mesas-redondas temáticas, sessão de lançamento de 54 livros (Publicom), apresentação de uma nova edição de revista acadêmica (Iniciacom), cerimônia das premiações anuais da Intercom e um total de 56 oficinas e minicursos. Nos 34 Grupos de Pesquisa (GPs), bacharéis, pós-graduandos e pesquisadores apresentaram 973 artigos. Outros 317 artigos foram apresentados por graduandos e recém-graduados nas oito Divisões Temáticas do Intercom Júnior. E 298 trabalhos experimentais foram expostos na Expocom, cuja cerimônia de premiação encerrou o congresso no dia 7 de setembro.
Além dos congressistas, o campus da UFPA também recebeu convidados de relevo no cenário acadêmico e profissional, brasileiro e internacional, entre eles o espanhol Ramón Salaverría, pesquisador da Universidade de Navarra que abriu o 42º Ciclo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação falando sobre a relação entre mídias digitais, jornalismo profissional e democracia. “Estou convencido de que a potência dos pesquisadores brasileiros e sua capacidade de fornecer ideias novas são muito grandes", afirmou Salaverría em entrevista ao JORNAL INTERCOM.
Outra conferência que chamou a atenção dos congressistas foi a de Franklin Martins, jornalista e ex-ministro da Comunicação que participou do IV Colóquio Jornalismo, Resistência e Literatura. “Eu acho que estamos vivendo dias terríveis no Brasil, mas acho que nós vamos superar. A humanidade sempre encontrou caminhos para resolver as situações de opressão. O homem, no seu fundamental, não é um canalha. E governos que querem massacrar e aterrorizar seus semelhantes não se sustentarão no longo prazo”, disse Martins ao JORNAL INTERCOM. “Para dar a volta por cima, não basta ser contra: tem que lutar. Ou seja, a gente não pode se submeter", continuou, ao explicar a mensagem de otimismo que transmitiu em sua palestra.
A descolonização do pensamento comunicacional latino-americano para a promoção da democracia e da cidadania foi o tema central do IV Colóquio Latino-americano de Ciências da Comunicação, em que pesquisadores de Brasil, Bolívia, Equador, Venezuela e Colômbia discutiram formas de aproximar as comunidades científicas dos países pan-amazônicos. “É importante estar em encontros como este, que nos permitem estar cara a cara. Pensar na democratização e na descolonização da comunicação é um trabalho fundamental que temos”, afirmou a equatoriana Gissela Dávila, presidente do Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina (Ciespal) no início de sua apresentação. Logo após a terceira e última mesa do evento, foi realizada a primeira edição do Colóquio Brasil-Bolívia, em que representantes da Intercom e da Associação Boliviana de Investigadores da Comunicação (Aboic) assinaram um acordo de cooperação bilateral. “Este convênio vai nos dar a possibilidade de trabalhar pesquisas, intercâmbios e possíveis publicações”, declarou Karina Olarte, presidente da Aboic. “Realizaremos esse encontro a cada dois anos. Em 2021, estaremos na Bolívia, e já começamos agora a construir propostas”, completou Roseli Fígaro (ECA-USP), diretora de Relações Internacionais da Intercom.
O Intercom 2019 incluiu, ainda, discussões sobre ensino e pesquisa em Comunicação em uma perspectiva histórica e presente (no VI Encontro Internacional do Colégio dos Brasilianistas da Comunicação); sobre folkcomunicação e culturas indígenas (na Jornada Beltraniana 2019); sobre os contingenciamentos de verbas para pesquisadores e universidades (principalmente no V Fórum Socicom-Intercom) e os ataques ao campo das Humanidades (principalmente no I Colóquio Ciências Humanas); sobre as novas diretrizes curriculares dos cursos de Comunicação Social e, mais especificamente, de Publicidade e Propaganda (no Fórum Ensicom 2019); sobre o presente e o futuro das emissoras geridas por universidades (no III Fórum de Rádios e TVs Universitárias); sobre as condições de trabalho dos jornalistas brasileiros (no IV Fórum Comunicação e Trabalho); e sobre comunicação na região amazônica (principalmente no II Ciclo Amazônia).
Em meio às notícias ainda recentes das queimadas na Floresta Amazônica, professores, pesquisadores, estudantes e profissionais associados à Intercom divulgaram, durante o congresso, a “A Carta de Belém para a Amazônia”, em que assumem o “compromisso de defender e proteger as culturas, as línguas, o meio ambiente, os territórios, as florestas, os rios e cada ser que existe nesta Amazônia”. O texto da carta foi aprovado na 41ª Assembleia Geral dos Sócios da Intercom, realizada no dia 5 de setembro e na qual também foram referendados os locais e o tema dos seis congressos a serem realizados em 2020.
“Realizar o congresso nacional da Intercom em Belém foi particularmente especial. Reunimos pesquisadores de todo o país e do exterior e trocamos ideias, nos apoiamos e nos fortalecemos diante do cenário complexo vivido pelas universidades brasileiras. Sabemos que, juntos, somos mais fortes e que, mesmo diante das adversidades, é preciso resistir. Além disso, a Amazônia está no centro das atenções do mundo. A presença de lideranças indígenas no congresso e a divulgação da ‘Carta de Belém para a Amazônia’ selaram nosso compromisso com as questões mais desafiadoras de nosso tempo”, avalia a professora Nair Prata, diretora Científica da Intercom e coordenadora geral do Intercom 2019. “Terminado o encontro em Belém, voltamos nossos olhos para Salvador, que já sediou o congresso nacional da Intercom em 2002, quando reuniu milhares de participantes. Retornaremos a essa cidade pulsante e viva, marco de histórica resistência, centro da cultura afro-brasileira e uma das mais antigas da América”.
SALVADOR 2020
“A gente está muito feliz em recebê-los no ano que vem em Salvador, na Bahia”, afirmou a professora Ivanise Andrade (UFBA) durante o encerramento do Intercom 2019, no dia 7 de setembro, ao fazer o anúncio oficial da sede do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2020).
Com o tema “Um mundo e muitas vozes: da utopia à distopia?”, a Intercom levará a discussão sobre o atual cenário brasileiro ao campus da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em Salvador na primeira semana de setembro de 2020.
“O fato de estarmos passando por um desmonte da universidade pública traz desafios à realização do evento. Certamente, a escolha de Salvador não é uma coincidência. Trata-se de uma cidade que sempre foi um grande palco de resistência, cujo principal instrumento são as ‘muitas vozes’. Particularmente a UFBA, na figura do reitor João Carlos Salles Pires da Silva, vem posicionando a universidade pública como um lugar de diversidade e inserção”, afirma o professor Fábio Sadao Nakagawa, da Faculdade de Comunicação (Facom) da UFBA e coordenador da Comissão Organizadora local do Intercom 2020. “Esperamos congregar vários institutos da UFBA, além de outras universidades públicas e privadas. Já temos professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) comprometidos em ajudar. Vamos enfrentar mais esse desafio, e o Intercom 2020 vai mostrar que também resiste. Vai ser maravilhoso.”
Sobre o tema central, o professor Giovandro Ferreira, que, além de presidente da Intercom, é professor da UFBA, ressalta o marco dos 40 anos do Relatório McBride, documento publicado em 1980 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para propor uma nova ordem comunicacional e cujo título em português é “Um Mundo, Muitas Vozes”. “Estamos em sintonia com esse passado – e presente, pois o documento comemora 40 anos em 2020. Nessa perspectiva, a tensão que o Intercom 2020 coloca é: vamos realmente avançar na utopia ou vamos cair numa distopia?”, explica.
Além do congresso nacional de 2020, os sócios da Intercom também aprovaram em Assembleia os locais dos cinco congressos regionais:
- Intercom Sudeste 2020: PUC Poços de Caldas, Poços de Caldas (MG), de 22 a 24 de maio
- Intercom Norte 2020: Estácio FAP, Belém (PA), de 30 de maio a 01 de junho
- Intercom Sul 2020: Univali, Balneário Camboriú (SC), de 11 a 13 de junho
- Intercom Nordeste 2020: Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande (PB), de 25 a 27 de junho
- Intercom Centro-Oeste 2020: Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados (MS), 04 a 06 de junho
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