17 de setembro de 2019
A percepção pública sobre a ciência e a tecnologia e os modos de interlocução com as agências de fomento foram tema do V Fórum Socicom-Intercom, que ocorreu no dia 3 de setembro como parte da programação do 42º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2019), realizado de 2 a 7 de setembro na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. Pesquisadores, profissionais da área, estudantes e membros da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e da Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (Socicom) discutiram os assuntos em uma troca de experiências e ideias permeada também pelo tema central do congresso, “Fluxos comunicacionais e crise da democracia”.
A mesa que deu início aos debates contou com a presença das professoras Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro Simão (UFAM), Maria Ataíde Malcher (UFPA) e Adriana Omena dos Santos (UFU/Intercom) e das jornalistas Alexandra Ozorio de Almeida, (editora-chefe da “Revista Pesquisa Fapesp”) e Marina Menezes (editora-executiva do “Nexo Jornal”). O grupo discutiu o tema “Novos modelos de percepção pública sobre Ciência e Tecnologia”, com mediação do professor Rudimar Baldissera (UFRGS/Socicom).
Além de um apanhado sobre as plataformas de divulgação científica existentes no Brasil, as duas jornalistas convidadas dividiram com o público as experiências de suas respectivas redações na construção de reportagens e matérias sobre a pesquisa no Brasil. Marina Menezes, do “Nexo”, ressaltou padrões e estratégias editoriais que desmistifiquem a ciência, com jogos, vídeos, infográficos e linguagem direta, e a necessidade de os jornalistas produzirem notícias com critérios que vão além do prazo e do número de cliques. Ela citou, ainda, a editoria “Acadêmico”, que semanalmente disponibiliza espaço para que o próprio pesquisador relate resultados de suas pesquisas.
A acessibilidade dos temas relativos à ciência e tecnologia também foi destaque na fala de Alexandra Ozorio, da “Revista Pesquisa Fapesp”, que há 20 anos noticia os resultados de estudos brasileiros em todos os campos do conhecimento. A jornalista ressaltou o uso de novos canais na internet como meio de divulgação e popularização desses temas. “Dizer que a linguagem científica é inacessível é uma desculpa. É possível ter clareza e precisão ao comunicar o assunto. Há uma série de blogueiros e youtubers que caminham nesse sentido, e esse diálogo existe.”
Ao apresentar os resultados parciais de sua pesquisa “Jovem e Consumo Midiático em Tempos de Convergência”, a professora Maria Ataide Malcher também trouxe os meios de comunicação on-line para a conversa. Ela falou sobre como o acesso a vídeos do Youtube é atualmente disseminado entre jovens mães do interior do Pará, destacando a importância da presença da universidade pública no cotidiano das comunidades: “As pessoas não estão loucas. O que está acontecendo não é uma questão de conservadorismo simples, é algo que traz de volta problemas que até achamos que tínhamos resolvido, mas que se reacendem. Não podemos esquecer que o que estamos fazendo aqui, na universidade pública, é vital para as regiões. Se ela ruir, a miséria vai imperar.”
Já a professora Adriana Omena dos Santos citou a necessidade de buscar a mídia que os jovens vêm consumindo e a presença nas redes sociais para divulgação da ciência, lembrando que a extensão é um dos caminhos mais efetivos para engajar a população na produção científica: “Não podemos formar apenas literatos. Todos temos que enfrentar a guerra da contrainformação, tirar a responsabilidade da universidade e levar para a sociedade a obrigação de conhecer as universidades. Vamos abrir o nosso cotidiano para a comunidade. A comunidade precisa ver que nós trabalhamos, e muito!”
Na segunda mesa do Fórum, os presentes discutiram os “Modos de Interlocução com as Agências de Fomento”. Com mediação do professor Fernando Arthur de Freitas Neves (UFPA), a mesa contou com Eduardo Meditsch (UFSC), a presidente da Socicom, Ana Regina Rêgo (UFPI), e o presidente da Intercom, Giovandro Ferreira (UFBA). Estava prevista a participação de representantes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisa (FAPESPA), mas os convidados não compareceram ao evento.
Frente às ausências, Giovandro Ferreira lembrou que o momento político exige estratégias de fortalecimento e sobrevivência da pesquisa, com união de entidades. “Existem as estratégias dos grandes, mas devemos adotar as táticas dos pequenos. Por isso, é importante estarmos em um encontro como este, com pessoas preocupadas com a ciência, com a pesquisa, com a extensão, com o ensino. Não podemos perder a alegria. Sorrir é um poder, mesmo nas dificuldades. Nós vamos buscar os caminhos de mobilização entre nós? Como vamos sair da dinâmica ‘farinha pouca, meu pirão primeiro’?”, afirmou.
A mesa evidencia a importância do assunto frente aos anúncios de corte por parte do governo. O Ministério da Ciência e Tecnologia informou neste mês que só tem recursos para o pagamento de bolsas do CNPq até outubro. Para que o investimento em pesquisa seja mantido, são necessários mais de R$ 300 milhões. Já o Ministério da Educação anunciou que o orçamento da Capes será reduzido pela metade em 2020.
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