MODALIDADE VIRTUAL
De 4 a 9 de outubro de 2021
Realização: Intercom e Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)
Coordenação: Juliano Domingues
Contato: secretaria@intercom.org.br
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Acesso ao evento
ANAIS
Tema: Comunicação e resistência: práticas de liberdade para a cidadania
O Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação acontece desde 1977 e reúne, tradicionalmente, cerca de 3,5 mil pessoas, entre alunos de graduação e pós-graduação, pesquisadores e profissionais da área. No evento, são debatidos tópicos de jornalismo, relações públicas, publicidade, rádio, televisão, cinema, produção editorial e de conteúdo para mídias digitais e políticas públicas de Comunicação, entre outros. A cidade-sede muda a cada ano e é escolhida pelos sócios da Intercom, em votação realizada no ano anterior.
Durante o congresso, o maior do país na área, há também a entrega de prêmios, como o Luiz Beltrão, concedido nas categorias "Liderança Emergente", "Maturidade Acadêmica" Grupo Inovador” e “Instituição Paradigmática”, e os prêmios estudantis, para alunos de graduação, mestrado e doutorado.
Em 2021, o 44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2020), será realizado de 4 a 9 de outubro em formato virtual, com o apoio institucional da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Diante dos desafios impostos pela pandemia de covid-19 no Brasil e no mundo, que inviabilizam a reunião presencial de milhares de pessoas, mais uma vez nosso congresso terá que ser virtual.
A realização virtual do congresso nacional em 2021 tem o intuito de manter a contribuição da Intercom para a constituição do campo científico na área de Ciências Sociais Aplicadas, em interface com diversos campos do conhecimento, inclusive pela natureza interdisciplinar inscrita em seus princípios constitutivos.
Tema
Ao longo de seus 44 anos, os congressos da Intercom sempre evidenciaram pautas sociais relevantes de cada momento, numa sintonia com espírito do tempo comunicacional, ou seja, numa espécie de zeitgeist marcante de cada evento. Em 2021, diante o acirramento das desigualdades sociais, do recrudescimento da violência contra jornalistas e outros comunicadores, das ameaças de censura à universidade e da negação da ciência, em especial, da ciência da saúde, no meio de uma pandemia, a palavra que se impõe é resistência.
Resistir ao obscurantismo que paira sobre parte do Brasil ganha relevo fundamental para o campo acadêmico da Comunicação, para as pesquisas na área e para as instituições do campo profissional. O esclarecimento científico e a contextualização dos fatos, em contraponto às fake news, à desinformação e às distorções conceituais, tornam-se práticas de liberdade para o reconhecimento das conquistas de cidadania que são ameaçadas pelas frestas do autoritarismo.
Diante das enormes contradições nesse tempo difícil para os brasileiros, a Intercom considera que a temática Comunicação e resistência: práticas de liberdade para a cidadania, ao remeter à Paulo Freire, justamente no ano do seu centenário de nascimento, ajuda a pensar em como quebrar um ciclo reacionário político e ideológico extremista que ameaça um ideário civilizatório de reconhecimento de direitos e liberdade ao qual não cabe retrocessos.
No livro “Educação como prática da liberdade”, e em tantos outros, Freire dá importantes chaves ontológicas para se resistir à massificação, cujo caminho entra na estrada principal da participação ativa cidadã no processo de um “agir educativo que, não esquecendo ou desconhecendo as condições culturológicas de nossa formação paternalista, vertical, por tudo isso antidemocrática, não esquecesse também e sobretudo as condições novas da atualidade. De resto, condições propícias ao desenvolvimento de nossa mentalidade democrática, se não fossem destorcidas pelos irracionalismos” (FREIRE, 1981, p.91) [1].
O livro mencionado teve sua primeira edição pública em 1967. Portanto, apesar de passados mais de 50 anos, as palavras de Paulo Freire ressoam como se ele estivesse falando do momento atual, dada a situação catastrófica vivenciada atualmente no Brasil. Naquele contexto, ele já apresentava uma visão crítica da realidade para poder mudá-la. Seu método de educação para a liberdade que, ao contrário do que se pode imaginar, ultrapassou as paredes das escolas e ganhou espaço na educação não-formal e informal popular, ultrapassou as fronteiras do Brasil e ganhou o mundo. Como mostra Veiga (2019) [2], existem centros de pesquisa com seu nome da Finlândia, África do Sul, Áustria, Alemanha, Holanda, Portugal, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.
No ano em que se comemora 100 anos de seu nascimento (1921-2021), contam-se os seus 48 títulos de doutor honoris causa e outras honrarias prestados por universidades e outras organizações e brasileiras e estrangeiras, além de se recordar que sua obra “Pedagogia do oprimido” [3] é a terceira mais citada em trabalhos de Ciências Humanas no mundo, segundo estudo de Elliott Green feito no Google Scholar em 2016 (Instituto Paulo Freire) [4].
As ideias do Patrono da Educação Brasileira e sua pedagogia libertadora são revividas e parecem inspiradoras para novas tomadas de posição frente às crises em que o Brasil está submerso. No contexto dos anos 1960 e seguintes, Freire já propunha olhar criticamente a realidade para poder transformá-la. Propôs o diálogo e uma educação corajosa, que enfrentasse uma experiência antidemocrática, que possibilitasse a discussão horizontal de sua problemática, que provocasse mudança de atitude e visasse um desenvolvimento não apenas envolvendo questões econômicas, mas o desenvolvimento humano consciente e integral (FREIRE, 1981).
Em meio à grave crise social e econômica que acirra a pobreza e o sofrimento de grande parte da população, e ao emaranhado de contradições que a acompanha, foram agregadas uma crise política e uma gritante crise de saúde pública, ocasionada pela pandemia do novo coronavírus, sem precedentes na história. É um cenário que requer resistência e resiliência por parte de todos os setores da sociedade. Resistência para não permitir o desvio do fluxo civilizatório na direção da ampliação crescente do status da cidadania. Resiliência na perspectiva de a sociedade civil saber se reinventar. A capacidade de os setores populares de se adaptarem e de reagir às intempéries ficou comprovada nesse tempo de pandemia nas formas de auto-organização popular e ajuda mútua instituídas nas periferias.
A proposta do Congresso Intercom no ano de 2021 é convidar os setores científicos, acadêmicos e do exercício profissional nas instituições midiáticas do campo da Comunicação a resistir e contribuir na defesa da liberdade acadêmica, da liberdade de imprensa e da liberdade para construir uma sociedade que respeite plenamente os direitos constitucionais. Nas palavras de Hanna Arendt ao refletir sobre a banalidade do mal, “vivemos tempos sombrios, quando as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança” [5]. Concepções patriarcais, racistas, fascistas e ditatoriais cabem apenas no túmulo no passado. O processo civilizatório não admite retrocessos, quando ocorrem são temporários.
Não é tempo de perder a esperança. É tempo de reanimar as esperanças e conjugar, com Paulo Freire (1997), o verbo esperançar. Esperançar não é esperar por algo, mas “é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo” [6].
E, como se não bastasse Paulo Freire, recordemos o poeta Thiago de Mello:
“Faz escuro, mas eu canto
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
a cor do mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar (...)” [7].
[1] FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 12.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
[2] VEIGA, E. Paulo Freire: como o legado do educador brasileiro é visto no exterior. BBC News Brasil. 12 jan.2019. Disponível em: bbc.com/portuguese/brasil-46830942.
[3] FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977 (original em 1970).
[4] Ver paulofreire.org/noticias/463-paulo-freire-%C3%A9-o-terceiro-pensador-mais-citado-em-trabalhos-pelo-mundo.
[5] ARENDT, H. Homens e tempos sombrios. São Paulo: Companha de Bolso/ Editora Schwarczt, [1955], 1968. Versão digital.
[6] FREIRE, P. Pedagogia da esperança. Um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. Versão digital.
[7] Ver a poesia completa em: recantodopoeta.com/faz-escuro-mas-eu-canto.
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