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ANAIS
O tema do 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação é “Ciências da Comunicação contra a Desinformação”.
Ao longo de seus 45 anos, os congressos da INTERCOM sempre evidenciaram pautas sociais relevantes de cada momento, numa sintonia com espírito do tempo comunicacional, ou seja, numa espécie de zeitgeist marcante de cada evento. Em 2022, o tema será “Ciências da comunicação e contra a desinformação”.
A cada época, sua barbárie. Em 2022, o mundo ainda não resolveu a dupla pandemia: a de Covid-19, cada vez mais próxima de ser superada graças à existência de uma comunidade científica internacional que trabalhou incessantemente e em regime de colaboração, e a de desinformação, que a precede, a acompanhou ao longo dos últimos dois anos, e que deve superá-la temporalmente. Ao completar 45 anos, o Congresso Nacional da INTERCOM, que volta à modalidade presencial, tematiza a epidemia de desinformação classificada pela Unesco (2020) como infodemia [1]. A poluição da informação, o adoecimento e as desordens informacionais preocupam as instituições e o universo acadêmico devido sua escala global. O recrudescimento da desinformação tem se mostrado uma ameaça à sociedade em aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e científicos. As inverdades, sejam aquelas produzidas voluntária ou involuntariamente, por má ou boa-fé, afetam, em última instância, as possibilidades de sobrevivência humana. Em outras palavras, contaminam comportamentos e posicionamentos de grupos sociais, de princípios sanitários a crenças nas instituições.
O cenário contemporâneo de desinformação reforça que a ampliação quantitativa do acesso à internet não significa a garantia de democratização midiática. Na segunda metade do século XX criou-se uma demanda por pesquisas das Ciências da Comunicação que visavam avaliar, em meio a uma ditadura implantada em um país que vivia um denso processo de modernização, as implicações da concentração midiática e a busca por alternativas. A interpretação de desinformação, causada majoritariamente pelo poder político e econômico dos oligopólios de mídia, exigia algo tido como uma utopia: aumentar a capacidade de vozes dissonantes e contra hegemônicas para enriquecer o debate público, amadurecendo a democracia e garantindo o exercício da cidadania.
A redemocratização, a expansão do poder de compra e o surgimento da internet, no fim do século XX, criaram um contexto de relativo otimismo, logo maculado por novos dilemas e desafios. O acesso à tecnologia em si, ainda deficitário para vários setores da sociedade brasileira, referendou novas formas de concentração midiática e também estruturou um ecossistema baseado em uma lógica algorítmica, no qual a desinformação passou a estruturar as relações sociais, corroendo democracias do norte ao sul global. Milícias digitais se apropriam de uma técnica social que se materializou com os algoritmos: a produção desenfreada de produtos comunicativos baseados em vieses de confirmação é usada para reforçar princípios, crenças, preconceitos e criar, deliberadamente, desinformação. A história passa a ser questionada mediante tentativas de reescrita baseadas em versões especulativas que há muito tempo foram refutadas. A democracia é ameaçada com a ascensão de lideranças políticas que flertam com o autoritarismo e com o fascismo, a ciência enfrenta, além de cortes orçamentários que prejudicam o desenvolvimento de pesquisas voltadas aos problemas do tempo presente, ataques de credibilidade.
Ao privilegiar interesses e visões de mundo de grupos particulares em detrimento dos acontecimentos, a desinformação se utiliza de uma engenharia social como arma de manipulação, ameaçando os fundamentos das ciências e as bases epistêmicas que sustentam o modelo civilizatório atual. Essa configuração específica tem abalado as instituições sociais, inclusive e principalmente aquelas dedicadas às ciências, cuja credibilidade depende de consensos mínimos sobre fatos e critérios de verdade.
O campo da Comunicação, em especial, tem sido duramente atingido pelo contexto contemporâneo de desinformação. Epistemologicamente, trata-se de uma força privilegiada para produzir conhecimentos capazes de enfrentar esse fenômeno e encontrar alternativas viáveis. Entre os muitos desafios de um cenário complexo, faz-se urgente e necessário produzir respostas que reposicionem a verdade e reorganizem a informação circulante, combatendo o caos informacional e resgatando a credibilidade das instituições caras à vida em sociedade, principalmente as científicas, que se encontram sob fortes pressões e desmanches frente a manipulações, interpretações da realidade, notícias falsificadas, lendas urbanas, mistificações, pseudociência, imposturas e teorias conspiratórias. Para essa tarefa é indispensável que a Comunicação e as ciências, a informação e o conhecimento andem de mãos dadas e assumam compromisso mútuo com a causa do combate à desinformação, articulando a Ciência da Comunicação à comunicação da ciência.
Há quatro décadas e meia defendendo que o mero acesso à tecnologia é insuficiente para uma democratização plena, a INTERCOM avalia como emergente o tema Ciências da comunicação contra a desinformação. A proposta do Congresso da INTERCOM em 2022 é convidar setores científicos, acadêmicos e do exercício profissional nas instituições midiáticas para refletir e, principalmente, enfrentar o fenômeno da desinformação. Vencê-lo talvez seja uma utopia, que como ensina Eduardo Galeano, está no horizonte distante e se afasta um passo a cada passo. Se alcançá-la é impossível, por outro lado, buscá-la permite caminhar [2].
[1] UNESCO; OPAS; OMS. Entenda a infodemia e a desinformação na luta contra a COVID-19. Kit de ferramentas de transformação digital. Ferramentas de Conhecimento. 2020. Disponível em: <unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000374416_por>. Acesso em: 08 fev 2022.
[2] GALEANO, Eduardo. Las Palabras Andantes. Siglo XXI Editores: Madri, 2012.
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